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Corrida de rua 10/04/2024

Teste ergoespirométrico é revelador, e corredor amador pode evoluir após fazê-lo

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade

Andrei faz teste ergoespirométrico na Ultra Sports Science (Esportividade)

Os corredores nunca tiveram tanto acesso a dados a respeito do próprio desempenho quanto agora. Com os aplicativos para smartphones e, especialmente, os smartwatches, eles têm noção de distância, velocidade e frequência cardíaca, por exemplo. E a palavra “noção” não foi usada à toa: por melhor que seja o dispositivo, não substitui um teste laboratorial bem-feito, e o mais completo deles é o ergoespirométrico com identificação da concentração de lactato. Embora pareça algo voltado a atletas profissionais, também pode ser feito por amadores em centros de reabilitação e performance esportiva como a Ultra Sports Science, em São Paulo.

“Existe uma ciência por trás disso, pouco explorada no Brasil, que é o desempenho cardiorrespiratório da performance humana, e esses exames permitem um ajuste exato, se não próximo disso, das suas cargas de treino”, diz Danilo do Prado, doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina (FMUSP) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Hospital das Clínicas (HC), fisiologista e responsável técnico na Ultra Sports Science.

Assista ao vídeo curto e entenda melhor o teste:

Além de prover as informações obtidas por meio de um teste ergométrico tradicional, como identificação de possíveis doenças cardiovasculares, o teste ergoespirométrico é caracterizado por uso de máscara para análise dos gases. As trocas gasosas, dessa maneira, podem ser analisadas.

E, por falar em análises, testes como o realizado pelo Esportividade são capazes de medir como o corpo reage à prática esportiva, como a corrida de rua. Uma das medições feitas é a do lactato, nome difícil que nada mais é do que um subproduto produzido constantemente no corpo durante o metabolismo normal e o exercício. A concentração não aumenta até que a taxa de produção de lactato exceda a taxa de remoção de lactato, que é governada por vários fatores. A concentração de lactato sanguíneo é geralmente de 1 a 2 mmol/l em repouso, mas pode aumentar para mais de 20 mmol/l durante esforço intenso. Os níveis de lactato sanguíneo servem essencialmente como um marcador indireto para eventos bioquímicos, como fadiga nos músculos em exercício.

Coleta de sangue para medir concentração de lactato (Esportividade)

O teste funciona de forma similar a um ergométrico tradicional, com a velocidade sendo elevada gradualmente – até a que o atleta amador suportar. A maior diferença é que, ao longo dele, a cada três minutos, é coletado sangue por intermédio de um minúsculo furo feito na orelha do corredor. Um aparelho mede a concentração de lactato, cujo resultado é revelado em poucos segundos.

Ao fim do teste, é possível identificar no gráfico quando (a que velocidade) a concentração de lactato começou a exceder a de 2 mmol/l, o chamado limiar de lactato. “Corredores sub-3h de maratona tem de ter, pelo menos, o limiar de lactato a 13 km/h”, analisa o  fisiologista. “Corredores que fazem entre 2h30 e 2h35 na maratona tem esse limiar entre 15 e 16 km/h. Se você não melhorar seu limiar de lactato, você terá grande chance de não melhorar o desempenho.”

Concentração de lactato de Andrei a 15 km/h (Esportividade)

E como melhorar esses índices? O especialista garante: “Com treino. Treino e descanso. Treino na quantidade certa. O que aconteceu com a inglesa Paula Radcliffe foi muito interessante, porque, em dez anos, ela deslocou esse limiar de lactato de 14 para 18,5 km/h, e é muita coisa. Lembrando que a Paula era uma atleta profissional e levou uma década para isso, e tem amador que quer melhorar isso em seis meses”.

“Todo atleta precisa fazer um teste desse. Recebemos muitos atletas com excesso de cansaço e que não conseguem evoluir. E descobrimos que eles estão com incremento de limiar precoce.” Isso quer dizer que o nível de lactato deles ultrapassa o valor de 2 mmol/l muito cedo, causando a “quebra” durante a prova, por exemplo. Atingi o meu primeiro limiar de lactato a 11 km/h; já o segundo foi a 14 km/h, quando a lactação já estava em 4,1 mmol/l.

Monitores exibem dados do teste em tempo real (Esportividade)

O teste indica também o VO2 máximo (VO2 máx.), isto é, a potência aeróbia máxima, a intensidade de exercício correspondente à máxima capacidade de captação de oxigênio, refletindo a troca gasosa alveolar, o transporte pelo sistema cardiovascular e o consumo pelos tecidos periféricos, principalmente o muscular. Um sensor instalado na perna mede o índice de eficiência de corrida.

O treinador Francisco Duran, da KiKo Treinamento Esportivo, acompanhou o teste do repórter do Esportividade e ressaltou que não se trata apenas de uma ferramenta útil para maratonistas: é válido para todos os corredores. “Quando o treinador recebe um exame desses, a primeira coisa que tem de avaliar são as zonas de treino do atleta, se estão próximas ao que a fisiologia diz. O profissional coloca o aluno para correr nas zonas indicadas pelo teste, justamente para melhorar o endurance dele, o limiar anaeróbico e o VO2 máximo. E para corridas de longa distância, quando mais lento, mais próximo ao seu limiar você treinar, mais eficiente você vai ser e melhor você vai ficar lá na frente”, afirma.

Danilo do Prado, Andrei, Francisco Duran (Kiko) e Renata na Ultra Sports Science (Esportividade)

Normalmente, quando o atleta não um têm resultados de um teste ergoespirométrico em mãos, os treinadores usam um teste de três quilômetros para a definição das zonas de treinamento, as quais podem ficar superestimadas. O exame, por sua vez, é mais preciso e pode ser feito antes de um novo ciclo de treinamento.

Existe um teste mais voltado às estratégias de prova que permite que atleta e treinador identifiquem qual é a velocidade recomendada para correr minimizando o risco de haver uma grande queda de desempenho.

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