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Futebol 18/12/2023

Liverpool segue na contramão de times europeus: sem patrocínios de apostas

Por Esportividade

Anfield, estádio do Liverpool (foto de Finn em unsplash.com)

O Liverpool tem se destacado como um excelente exemplo de clube inglês que não depende de patrocínios ligados a apostas esportivas. Tal atitude demonstra que os times da Inglaterra podem prosperar sem recorrer a essas parcerias, mesmo diante da iminente proibição de exibir casas de apostas na frente das camisas da Premier League, a liga profissional de futebol da Inglaterra, a partir do verão de 2026. No Brasil, por exemplo, ainda não se discute a proibição (ou não) de incluir logotipos de casas de apostas nas camisas dos times; na verdade, está em tramitação a regulamentação das apostas esportivas no país.

Retirada do patrocínio de casas de apostas da frente das camisetas

A exclusão dos patrocínios de casas de apostas da parte da frente das camisetas dos clubes era aguardada. Existe uma preocupação crescente com os problemas relacionados às apostas no futebol, especialmente com o impacto negativo gerado nos jovens, considerados mais suscetíveis aos vícios, inclusive em apostas. Assim, a Premier League tornou-se pioneira entre as ligas esportivas profissionais no Reino Unido, o que causou surpresa, considerando o histórico de acordos lucrativos entre seus times e casas de apostas.

O impacto financeiro dessa nova medida, que recebeu grande apoio dos times da Premier League, é significativo, pois contratos com principais cassinos online e empresas de apostas globais geram cerca de 60 milhões de libras anualmente. Bournemouth, Brentford, Everton, Fulham, Leeds, Newcastle, Southampton e West Ham, atualmente com algum tipo de patrocínio de casas de apostas esportivas na parte frontal de suas camisas, serão afetados pela mudança.

As casas de apostas sempre foram parceiras próximas das ligas de futebol no Reino Unido e, mesmo com essa nova medida em vigor a partir de 2026, elas ainda permanecerão nos clubes – desde que estampadas na parte de trás ou nas mangas das camisas dos times ingleses. Um exemplo é a liga menos abastada English Football League (EFL), que tem a Sky Bet como principal patrocinadora corporativa. A abrangência dessas parcerias certamente impactará várias equipes, mas, se o Liverpool pode prosperar sem patrocinadores de jogos de azar, outras equipes também têm essa capacidade.

Os Reds mantêm uma tradição de longa data de evitar parcerias com casas de apostas, o que não prejudicou seu desempenho financeiro. O Liverpool destaca-se como um dos clubes mais rentáveis, superando até mesmo outros tradicionais da Premier League. As parcerias com casas de apostas, embora rentáveis, estão com os dias contados na Inglaterra. É hora de os clubes seguirem o exemplo do Liverpool e diversificarem suas fontes de receita para além do universo das apostas.

Colaborações comerciais com setores fora do âmbito das apostas tendem a ser a opção mais acertada, benéfica e bem-vista pelos torcedores e pela comunidade em geral. O Liverpool é um exemplo nisso, mantendo parcerias sólidas com grandes marcas, como o banco britânico Standard Chartered, a marca esportiva Nike e Expedia, do segmento de viagens online.

O Standard Chartered, que patrocina a camisa do Liverpool há mais de dez anos, investe cerca de 50 milhões de libras por ano no clube. O banco britânico, por sua vez, ganha visibilidade da sua marca em Anfield de diversas formas, desde a propaganda na frente da camisa até o uso dos jogadores do Liverpool em ações de marketing. A Nike, que fornece os uniformes, fechou um acordo inicial por 30 milhões de libras por ano, e a Expedia, que renovou a parceria para as mangas, desembolsa 9 milhões de libras anuais.

A comercialização dos direitos de transmissão e dos produtos licenciados também é uma fonte rentável, gerando cerca de 100 milhões de libras em vendas anuais de produtos variados, desde camisas até souvenirs.

É importante ressaltar que o Liverpool não se restringe a essas fontes de receita. Ingressos, hospitalidade e visitas ao estádio também são somados à renda do clube, que chegou a 594 milhões de libras na temporada 2021/2022.

Enquanto alguns podem duvidar da viabilidade dessa mudança, basta olhar para a Série A do Campeonato Inglês como inspiração. A mensagem é clara: clubes de futebol podem crescer sem depender de acordos com casas de apostas!

Controvérsias geradas pela proibição

Alguns defendem que é contraditório rejeitar patrocínios de casas de apostas e, ao mesmo tempo, promover setores como o de bebidas alcóolicas. A proibição, porém, conta com o apoio daqueles que se preocupam com seus efeitos éticos e prejudiciais, sobretudo entre os jovens, enquanto clubes milionários se beneficiam às custas deles.

Outros argumentam que clubes menores, com menos recursos, podem ter dificuldades sem o respaldo das casas de apostas, pois não contam com muitos torcedores ou potencial financeiro. A Série A, na Itália, e a LaLiga, na Espanha, avançaram ao vetar essas parcerias – ainda que com algumas falhas.

Compromisso em prol dos torcedores

Os torcedores são o coração e a alma de qualquer clube, pois demonstram paixão e apoio incondicional. Eles comemoram cada triunfo do time, dentro e fora de campo, e valorizam a ética e a moralidade no esporte.

A publicidade de casas de apostas esportivas, seja na camisa, seja ou nas mangas, costuma gerar polêmica e discussão. O Liverpool mostra, porém, que um clube da Premier League pode se destacar sem depender desses patrocínios.

Os clubes menores não devem usar as dificuldades financeiras como desculpa para abandonar os valores, a missão e a visão que têm na comunidade. O caso do Plymouth na EFL é um exemplo disso – ao doar o espaço da camisa para uma entidade beneficente local em vez de se associar a casas de apostas lucrativas.

Para competir em ligas e torneios europeus, é fundamental ter estratégia e recursos adequados. Os clubes mais tradicionais têm várias fontes de renda além das apostas, mas os times menores podem buscar outras opções em conformidade com as normas do futebol, que mudam para uma postura mais consciente em relação aos patrocínios.

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