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Rugby 05/03/2014

Entrevista exclusiva: dirigente do IRB fala sobre rugby no Brasil e Rio-2016

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade
Edna em jogo contra canadenses (João Neto/Fotojump)

Edna em jogo contra canadenses (João Neto/Fotojump)

O momento do rugby no Brasil é singular. Embora sua prática seja antiga por aqui, só recentemente, depois de 2009, se viu uma perspectiva de grande crescimento, muito em função de uma coincidência: a volta da modalidade aos Jogos Olímpicos será justamente na Olímpiada de 2016, a do Rio de Janeiro. A variação sevens, em que cada equipe tem sete titulares, será a olímpica desta vez – e não a de 15. O IRB (International Rugby Board, entidade que gere o rugby internacional) deu classificação automática para as seleções brasileiras feminina e masculina, e começou uma corrida contra o tempo para que ambos os times estejam em condições competitivas até lá.

A equipe feminina já chegou a um estágio de luta por uma posição entre as oito melhores do mundo, embora nem sempre consiga. Mas a masculina nem sequer participa do Circuito Mundial.

Na Arena Barueri, há uma semana e meia houve a etapa brasileira do Circuito Mundial feminino de rugby sevens, o que foi o maior evento da modalidade já realizado por aqui. Austrália e Nova Zelândia protagonizaram a final, e as australianas saíram do país com uma vitória sobre as rivais. A equipe do Brasil foi a décima colocada de 12 participantes e encontra-se em nono lugar na classificação geral após três etapas – com duas a serem realizadas ainda.

A reportagem do Esportividade entrevistou o irlandês Mark Egan, chefe de competições e desempenho do IRB, sobre a situação do rugby no Brasil, o trabalho da Confederação Brasileira, o evento barueriense e os Jogos Olímpicos de 2016.

Esportividade: Como está o desenvolvimento do rugby no Brasil?
Mark Egan: Houve um grande crescimento nos últimos cinco anos. CBRu tem introduzido bons programas, alguns apoiados pelo IRB. Começaremos a ter o rugby nas escolas, em diferentes cidades e Estados. Dez mil novos jovens foram jogar rugby nos últimos cinco anos, o que é excelente, então o Brasil é um dos países em que o rugby cresce mais rapidamente neste momento entre os 119 filiados. Quanto ao rugby internacional, a seleção brasileira feminina vai muito bem. A equipe masculina começará a progredir; o projeto masculino é de longo prazo e agora, em particular, o foco tem de estar no sevens. O IRB deu classificação automática para ambas as seleções, e foi uma decisão que tomamos para termos certeza de que agora podemos trabalhar com a CBRu a fim de melhorar o desempenho dos times. Esperamos que, ao trazer esse torneio para cá, possamos mostrar ao público, e com cobertura de TV, que o rugby sevens é empolgante. Tomara que crianças e adolescentes vejam a modalidade pela televisão e pensem em tentar praticá-la. São tempos realmente empolgantes para o rugby no Brasil.

A seleção brasileira feminina de handebol foi campeã mundial em 2013 após uma estratégia da qual fez parte convênio com o clube austríaco Hypo Nö, agora encerrado, para jogadoras brasileiras jogarem lá. Seria possível fazer algo similar no rugby?
Handebol é um exemplo interessante, mas é uma modalidade olímpica há muito tempo, e rugby sevens é a mais nova. É um projeto de longo prazo. Não há ligas profissionais de rugby sevens ao redor do mundo. O que procuramos fazer é proporcionar aos jogadores uma experiência internacional ao levá-los para a Austrália ou Nova Zelândia e deixá-los lá por um ou dois meses para treinamentos, jogos contra atletas locais. Não temos ligas profissionais como o handebol tem, no entanto. A força do handebol está na Europa, onde existem ligas profissionais bem-sucedidas. Precisamos desenvolver isso nos próximos dez anos. Neste momento, precisamos dar atenção aos programas que temos aqui no Brasil. Só faltam dois anos para os Jogos Olímpicos, então precisamos estar bem focados no que faremos nesses próximos dois anos para elevarmos o nível, particularmente o da equipe masculina. Mas as seleções femininas também têm estado cada vez mais competitivas, e, assim, a brasileira precisa trabalhar até mais intensamente.

Como aconteceu a vinda do Circuito Mundial feminino de sevens para o Brasil?
Queríamos trazer um evento importante de rugby ao Brasil e conversamos com a CBRu. Temos o Circuito Mundial masculino, mas dele já há nove etapas, e por mais ou ou dois anos não vamos expandir o calendário. Como a seleção brasileira feminina de sevens é forte, pensamos em trazer o evento feminino para cá. Estudamos levá-lo ao Rio de Janeiro, mas, infelizmente, lá eles não tem uma opção como essa [Arena Barueri] para o rugby; lá é mais caro, mais difícil encontrar campos de treinamento para as equipes. Quando vim para cá em 2013 e a CBRu me trouxe aqui, me mostrou o estádio, sabíamos que o município estava disposto a apoiar-nos. Quando temos o apoio da cidade, como nesse caso, fica mais fácil, porque você tem o apoio local do município para locais de treinamento e outras operações do torneio. Nós estamos muito satisfeitos. A CBRu fez um excelente trabalho; toda a equipe da confederação trabalhou duramente. Os times estão muito felizes, disseram ser este um dos melhores eventos do calendário. O hotel e a comida são fantásticos; os locais de treinamento são ok, e podemos melhorá-los talvez no próximo ano.

A etapa de Atlanta terminou em 16 de fevereiro e a de Barueri começou em 21 de fevereiro. As jogadoras sentem muito a mudança brusca de temperatura e a viagem?
Na semana passada, estávamos em Atlanta, e o tempo estava frio. É um desafio para as atletas se acostumarem a condições diferentes. Vemos ainda rugby fantástico aqui, grandes habilidades, jogos muito acirrados. Elas tiveram um fim de semana duro nos Estados Unidos e encararam um voo de dez horas até aqui. É duro, mas faz parte do Circuito viajar longas distâncias. O segredo é a recuperação. Existe muita ciência por trás do que elas fazem nos primeiros dias depois de uma viagem: descanso, hidratação, reabilitação física. Todas as seleções têm preparadores físicos experientes para ajudá-las ao longo do torneio.

Como está a preparação para a Olimpíada de 2016?
Parece muito boa neste momento. Tivemos reuniões na segunda-feira e na terça-feira com o comitê organizador dos Jogos Olímpicos. Há cinco pessoas do departamento de esporte aqui, vendo como fazemos o evento. Visitei o parque olímpico de Deodoro, onde o rugby será disputado. Teremos o maior estádio temporário da Olimpíada, de 20 mil lugares. Os planos parecem muito bons. Educamos o pessoal do Rio-2016 sobre os requisitos para o estádio, os atletas. Temos uma relação muito boa com eles. Tomara que o programa de infraestrutura em Deodoro aconteça dentro do cronograma. Esperamos pelos eventos de teste, em março de 2016, para que possamos testar o campo e toda a tecnologia.

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