Zona norte deixará de ser o ‘túmulo do esporte’ se surgir ginásio do Anhembi
São Paulo já foi chamada de “túmulo do samba” pelo poeta Vinicius de Moraes. Embora tenha sido local de residência de Ayrton Senna, a zona norte da capital paulista pode ser considerada o “túmulo do esporte” por não possuir praças esportivas para competições profissionais. Essa situação, no entanto, começou a ser alterada nesta terça-feira, 27 de janeiro, com a apresentação dos planos de construção de um ginásio multiúso no complexo do Anhembi.
- E o estádio do Pacaembu…
Projeto de estacionamento para no mínimo 2 mil carros é desafio
A zona central conta com o estádio do Pacaembu; a leste, com a Arena Corinthians; a oeste, com Allianz Parque, Morumbi e diversos clubes, como o Pinheiros; e a sul, com o Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, o do Ibirapuera, e o autódromo de Interlagos. Na zona norte, porém, acontecem somente eventos esportivos esporádicos, como foi o caso da São Paulo Indy 300. Apesar da proximidade, o estádio do Canindé não está localizado na zona norte: fica no distrito do Pari, que para alguns é leste por estar na área da Subprefeitura da Mooca, mas para outros – como este site – é centro.
A região norte é, então, a única da capital paulista sem um equipamento esportivo realmente importante atualmente. O único clube relevante de lá é o Esperia, que, ainda assim, não participa de divisões principais de modalidades populares. É vizinho do Anhembi.
Mas a zona norte já foi um dia importante para o esporte paulistano – na verdade, a “fronteira” dela. Agora, ali diante do Tietê, rio tão fundamental para as provas de nado e remo no século XX, a Prefeitura de São Paulo pretende ceder um terreno para a construção de um ginásio multiúso com capacidade mínima para 20 mil pessoas. O plano inicial é que seja instalado ao lado da concentração do sambódromo, em uma área onde atualmente fica uma parte do setor administrativo da São Paulo Turismo, a SPTuris.
Em novembro de 2014, o prefeito Fernando Haddad já havia tratado da necessidade de um novo ginásio. O do Ibirapuera, inaugurado em 1957, não atende mais aos padrões atuais de grandes eventos esportivos e culturais. E em jogos de vôlei, por exemplo, recebe um público de pouco mais de 10 mil pessoas. O ginásio do Anhembi comportaria o dobro disso.
Nesse chamamento público, já pensando em uma futura licitação, a SPTuris cadastra e qualifica interessados em realizar estudos preliminares técnicos e de modelagem de projeto para a concepção, a construção, a implantação, a manutenção, a gestão e a operação do ginásio no Parque Anhembi. Na MIP, a Manifestação de Interesse Privado, apresentada, o projeto foi orçado em R$ 140 milhões. No entanto, esse valor poderá variar de acordo com as propostas de cada interessado.
Foi a T4F Entretenimento SA, a Time for Fun, promotora de eventos, a empresa que mais demonstrou para a prefeitura um desejo de um espaço assim. Por falta de locais adequados para públicos intermediários – nem tão pequenos quanto os de uma casa de shows, mas nem tão grandes quanto os de um estádio –, as companhias do setor têm de improvisar em áreas como a própria concentração do sambódromo e o aeroporto Campo de Marte.
Está aberto, então, um chamamento público. Os estudos preliminares a serem encaminhados pelos interessados devem atender às condições a seguir: o modelo de negócios deverá considerar que a remuneração do interessado se dará exclusivamente pela exploração dos ativos do ginásio, sem previsão de contraprestação pecuniária ou aportes de recursos por parte da SPTuris ou da Prefeitura de São Paulo; o termo “Anhembi” deverá compor o nome do ginásio, mesmo na hipótese de exploração dos direitos de nome por terceiros; deverá ser coberto, com capacidade mínima para 20 mil pessoas e possuir estrutura interna que permita múltiplas configurações de uso; o agente empreendedor não poderá explorar a atividade de estacionamento.
A área a ser concedida para a implantação do empreendimento possui 21.663,23 metros quadrados e está localizada na parte sul da área de concentração do sambódromo do Anhembi.
“Queremos dar uma destinação mais nobre para um terreno de mais de 20 mil metros que está em uma área absolutamente nobre da cidade. É uma área que é subutilizada. As margens do Tietê serão o cartão-postal definitivo da cidade de São Paulo. É lá que a cidade vai se reestruturar para o século XXI. Esse projeto se insere nesse contexto, que é de reapropriação das margens”, afirmou o prefeito Fernando Haddad em coletiva de imprensa realizada na sede da prefeitura nesta terça-feira (27).
- Prefeito fala sobre locais esportivos de São Paulo:
Haddad: falta de bons ginásios restringe eventos esportivos em SP
“O projeto atende a uma demanda reprimida por um tipo de equipamento que hoje não existe na cidade de São Paulo. Além disso, nós temos pesquisas que indicam que São Paulo vai ser o principal destino da América Latina em mais dois anos, até o início de 2017. Hoje Cidade do México e Buenos Aires [estão à frente], mas São Paulo caminha para a liderança”, disse o secretário para Assuntos de Turismo e presidente da SPTuris e da SPNegócios, Wilson Poit. A zona norte, se esse projeto sair do papel, deixará de ser o “túmulo do esporte” paulistano.