Sem milagre: saiba por que algumas corridas são mais baratas que outras

Night Run Twist em São José dos Campos (Vinicius Branca/Ativo)
As leis de incentivo ao esporte provocam uma falsa sensação de que existiria como inscrições para corridas de rua serem mais baratas do que realmente são. Hoje em dia, em que a obtenção de patrocinadores não está nada fácil, provas com inscrição por menos de R$ 30 normalmente são aquelas que fazem uso de verba incentivada.
Esse é o caso da Night Run Twist: a Cooper pode captar até R$ 5.286.333,80 para uma temporada de seis etapas e, por isso, consegue fazer com que cada inscrição saia por R$ 20 (R$ 27,50, na verdade, com a taxa de serviço do site Ativo). A mesma lógica vale para corridas do Instituto Olga Kos e da Rede Acesso e o Circuito da Longevidade, por exemplo.
Há leis municipais, estaduais e federais que permitem que eventos aprovados possam atrair patrocinadores mais facilmente, já que o governo abre mão de receber aquele dinheiro e, indiretamente, o transfere a projetos esportivos. A Lei de Incentivo ao Esporte federal permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam de Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte. As empresas podem investir até 1% desse valor; as pessoas físicas, até 6% do imposto devido.
Uma reportagem da revista “Runner’s World Brasil” de agosto de 2015 levantou, com a ajuda da Corpore, os custos do evento que são transferidos ao consumidor. Do valor total de cada inscrição de uma corrida hipotética feita na rua, com 1.000 participantes e de 10 km, R$ 25 iriam para o pagamento de estruturas; R$ 12, para taxas públicas e licenças; R$ 30, para o kit (além de camiseta e medalha, água e comida entram aqui); R$ 5, para o marketing da prova; R$ 18, para recursos humanos (staff).
“Essa soma [inscrições mais patrocínios] tem de bancar todos os custos e ainda deixar algum lucro”, disse Edgard Santos, diretor administrativo da Corpore.
“O tíquete médio líquido é o valor da inscrição depois de abatidos os 50% de desconto para quem tem 60 anos ou mais, a taxa do boleto para o banco, a taxa dos cartões e alguns impostos”, afirmou. “Se eu multiplicar a quantidade prevista de inscritos pelo tíquete médio líquido, tenho a previsão de receita da inscrição líquida.” Retirados os custos, obtém-se o que sobra para o organizador.
Com a ajuda de patrocinadores, é possível reduzir o preço das inscrições, uma vez que o organizador fica financeiramente menos dependente delas para fazer o evento “empatar” ou dar lucro. É por isso que projetos aprovados em leis de incentivo são mais em conta: muito mais facilmente conseguem o patrocínio, já que, para as empresas, compensa mais destinar o dinheiro ao evento e ganhar retorno publicitário que pagar aquela quantia em imposto e não ter um ganho de visibilidade.
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Não é tão simples como parece. Primeiramente, mesmo que seja via Lei de Incentivo, não é nada fácil de captar patrocínio. Em segundo lugar, muitas vezes o projeto inscrito é aprovado para menos da metade do que o número total de inscritos. Muitos itens previstos são recusados e a instituição proponente precisa se virar para consegui-los.
A conta é simples: uma corrida para 10 mil pessoas custa X, mas a captação liberada é apenas para 1/2 X.