São Paulo não pode sucatear esporte aguardando escolha da sede do Pan-31
A intenção da Prefeitura de São Paulo de tornar a capital paulista a cidade-sede dos Jogos Pan-Americanos de 2031 é válida e, se a cidade se candidatar e for escolhida, será a segunda vez que sediará o Pan, uma vez que a primeira vez foi em 1963. O poder público, porém, não pode ficar à espera da escolha para reformar locais esportivos.
Embora tenha recebido a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, ambos apenas com jogos de futebol na então denominada Arena Corinthians, em Itaquera, na zona leste, pouco restou dos eventos para a cidade de São Paulo. O maior legado foi, na verdade, uma construção que só mostraria seu potencial depois dos Jogos de 2016, o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, localizado na rodovia dos Imigrantes, já que foi inaugurado pouco mais de dois meses antes da abertura olímpica no Rio de Janeiro.
Principalmente desde a administração de João Doria, a prefeitura tem transferido a gestão de espaços públicos para a iniciativa privada, e o estádio do Pacaembu, a ser reinaugurado completamente reformado em 2024, é um grande exemplo disso.
O contrário disso é o Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, onde fica o ginásio do Ibirapuera. É administrado pela Secretaria de Esportes estadual. O estádio Ícaro de Castro Mello, mais usado pelo atletismo nas décadas mais recentes, encontra-se inutilizado devido ao seu abandono. Havia projeto de demolição para, em seu lugar, ser erguido um ginásio para 20 mil pessoas pela iniciativa privada. Como será construído um assim no Anhembi pela GL events Brasil Participações, a Arena São Paulo, a ideia “esfriou”. Faz mais de quatro anos que a situação está crítica, e o fato de ter sido montado lá um hospital de campanha em meio à pandemia de covid-19 a piorou.
O “modo de espera” que a cidade entrará até que seja definida a sede para o Pan-2031 não pode servir de desculpa pelo poder público para nada fazer por equipamentos esportivos como o complexo do Ibirapuera.
A prefeitura diz investir, desde 2021, R$ 850 milhões em “iniciativas que vão desde a criação de programas de incentivo à atividade física até obras que estão transformando estruturas da rede olímpica”.
Segundo o governo municipal, para formar novos atletas, investe R$ 45 milhões na reforma do Centro Esportivo José Bonifácio em Itaquera, na zona leste, para transformá-lo em um centro olímpico. Também estão contempladas as unidades Thomaz Mazzoni, na Vila Maria, na zona norte, e André Vital Ribeiro Soares, em Cidade Tiradentes, na região leste. O Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, na zona sul, também recebe melhorias.
Muito mais que isso precisa ser feito pela prefeitura e pelo governo estadual. A cada dia que passa sem a população poder usar um equipamento esportivo por falha do poder público, alguém perde a chance de praticar esporte ali, o que, aos poucos, vai deixando a sociedade literalmente doente.