Prefeitura ignora parte importante da história de Corinthians e São Paulo
A Prefeitura de São Paulo manteve parte da memória do Clube de Regatas Tietê quando reformou o local para se transformar no Centro Esportivo e de Lazer Tietê, mas deixou totalmente de lado a enorme importância daquela área para o futebol paulista, especialmente para o Sport Club Corinthians Paulista e o São Paulo Futebol Clube. No exato lugar em que já houve o primeiro campo do São Paulo, foi colocada grama sintética a fim de que o espaço possa receber shows. Não existe mais campo de futebol lá. E a prefeitura menciona somente o Clube de Regatas Tietê quando trata do passado do terreno, que era a Chácara Floresta. Todo o resto foi ignorado nos textos e nas cerimônias de entrega do Centro Esportivo e de Lazer Tietê.
“A memória do Tietê foi mantida. Sabemos que grandes esportistas brasileiros iniciaram suas atividades aqui”, disse o prefeito Fernando Haddad no sábado, dia 20 de setembro, sem se referir ao passado mais remoto do local.
A área de 19 mil m² coberta por grama sintética é aquela em que ficavam as piscinas do Clube de Regatas Tietê e o campo de futebol da Floresta, que, herdado da Associação Atlética das Palmeiras, foi a casa do São Paulo de 1930 a 1935. No entanto, o estádio são-paulino já havia sido modificado pelo próprio Tietê para o Campeonato Sul-Americano de atletismo de 1937, dois anos depois de os clubes terem se fundido – motivo pelo qual o Tietê ficou com o campo da Floresta.
“Essa é a maior área de grama sintética da cidade”, disse o prefeito paulistano. “A grama sintética foi escolhida porque São Paulo perdeu alguns espaços de shows muito tradicionais; quem não se lembra dos da praça da Paz, no Ibirapuera? Isso foi proibido por um termo de ajuste de conduta com o Ministério Público em função do impacto que aquilo trazia ao meio ambiente e à vizinhança. O mesmo [vizinhança] aconteceu no estádio do Pacaembu. Aqui cabem 40 mil pessoas com conforto para assistir aos shows que a prefeitura vai começar a proporcionar à cidade a partir de 11 de outubro.”
Quem joga nas reformadas quadras de saibro de tênis do Tietê está sobre o que já foi o primeiro campo construído com esforço de corintianos. O terreno, pertencente à prefeitura, foi arrendado pelo Corinthians em 1916. Operários, pedreiros, marceneiros, encanadores e serventes corintianos construíam o estádio da Ponte Grande gratuitamente ou em troca das mensalidades em inadimplência. O time alvinegro usou o local até 1927, quando se transferiu para o Parque São Jorge; então a Ponte Grande passou a ser utilizada pela Associação Atlética São Bento. Foi em 1937 que a área foi incorporada pelo Tietê, que a transformaria em quadras de tênis, por exemplo.
“Muito pouca gente que vai ao Clube de Regatas Tietê sabe que a sua portaria e sala da diretoria já foram as bilheterias do campo do Corinthians e que Filó, Amilcar, Del Debbio, Casimiro e outros astros já fizeram jogadas maravilhosas no local onde atualmente estão as quadras do clube, isto é, no mesmo espaço onde começou a jogar a divina Maria Esther Bueno, também autora de jogadas que outras gerações de esportivas não esqueceram. Sem dúvida, a Ponte Grande sempre foi um lugar abençoado”, escreveu Henrique Nicolini, autor do livro “Tietê, o rio do esporte”.
A histórica piscina olímpica, agora aterrada, começou a ser construída em 1932 e foi inaugurada em 1934. A nadadora Maria Lenk passou a defender o Tietê em 1934 após passagem pela Associação Atlética São Paulo, mas foi recordista mundial dos 200 e 400 metros peito em 1939 competindo pelo Clube de Regatas Guanabara (RJ).
Questionado pelo Esportividade, o prefeito Fernando Haddad respondeu: “As piscinas estavam em um estado de degradação muito grande. Só para você ter uma ideia: tudo o que foi investido aqui, da ordem de R$ 14 ou R$ 15 milhões para recuperar todo o espaço, não seria suficiente para refazermos as piscinas. Não houve, infelizmente, manutenção pela antiga diretoria. Não havia com recuperá-las sem um gasto astronômico. Acho que ficou melhor, para ser bem honesto. Esse gramadão vai servir mais a cidade do que se tivéssemos gastado R$ 15 milhões para recuperar um equipamento totalmente deteriorado”.
O Clube de Regatas Tietê, fundado em 1907 por ex-membros do Clube de Regatas São Paulo no outro lado da hoje em avenida Santos Dumont, passou em 1914 para o mesmo lado em que encerrou suas atividades em 2012. A área antes daquele ano havia sido ocupada pelo Esperia (de 1899 a 1903) e pelo Clube de Regatas São Paulo, extinto em 1913, quando o terreno já havia sido vendido para a prefeitura – o CR Tietê foi o escolhido pelo poder público para reocupá-lo. No mesmo espaço da primeira sede do Tietê, do outro lado da avenida, instalou-se em 1915 a Associação Atlética São Paulo.
Alguns dos objetos da história do Tietê já estão expostos improvisadamente em uma sala, mas será feito um museu de fato. “Todo o acervo que havia aqui está ali e pode ser visto informalmente hoje. Estamos terminando a contratação de gente especializada para fazermos um memorial com muita qualidade sobre a história do Tietê”, contou o secretário de Esportes, Lazer e Recreação, Celso Jatene.
“Não temos a pretensão de apagar a história do clube, muito pelo contrário. Cumpriu sua história na cidade e no país, porque teve Maria Esther Bueno e Maria Lenk, mas somos responsáveis por escrever uma nova história para este espaço. A partir de hoje vamos começar a construir uma nova história.”
O que há agora no Tietê
O Centro Esportivo e de Lazer Tietê oferece ao público cinco ginásios (quadro deles pequenos, como eram os do CR Tietê), quatro quadras de tênis, quatro de basquete 3×3, quatro quadras poliesportivas, além de um salão de jogos. O espaço também conta com uma pista de caminhada e mais de 19 mil m² de área livre, coberta por grama sintética. Terá playground, uma brinquedoteca e uma sala de leitura; para a terceira idade, existe um espaço com mobiliário para a prática de exercícios físicos ao ar livre.
Até o fim de 2015, o equipamento deverá receber uma pista de skate, que será instalada em uma área de 3 mil m², cujo projeto executivo ainda está em fase de finalização. Será construída onde hoje está o estacionamento, entre a Santos Dumont e as quadras de tênis.
“Ainda não chamamos de inauguração porque existem alguns retoques que precisam ser feitos, sobretudo ali naquela área de estacionamento, onde vamos instalar a melhor pista de skate da cidade. Nós tomamos essa decisão de última hora, no diálogo com a comunidade de skatistas”, declarou Haddad, segundo o qual a Chácara do Jockey, na zona oeste, vai também virar parque municipal até o fim deste ano.
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o Clube de Regatas Tietê acumulava dívidas de quase R$ 35 milhões em 2012, quando a administração municipal optou por não renovar a concessão de sua área.
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Olá,
O site recebeu mais alguma atualização sobre o que foi feito com os troféus?