Por que novos estádios continuam a ser estádios e não são “arenas”
“Arena” tornou-se recentemente, e não só no Brasil, o substantivo escolhido por muitos construtores e gestores para se referir aos centros esportivos cujas arquibancadas estão voltadas para um campo ou uma quadra. Esse formato arquitetônico não tem nada de novo, muito pelo contrário: é exatamente o mesmo dos estádios ou ginásios – estes com quadras. Só que, na visão de quem gerencia esses locais, a palavra “arena” passa ideia de algo “mais moderno” e até faz parte do nome de alguns desses complexos esportivos, que, em geral, também podem receber shows e eventos corporativos. Existe, no entanto, uma grande carga histórica por trás de “arena” e “estádio” que vem de Roma e Grécia, respectivamente. O esporte como o conhecemos está ligado aos estádios – e não às arenas.
O substantivo “estádio” (do grego “stadion” e do latim “stadium”) para locais esportivos deriva da unidade de medida de distância que equivalia a 600 pés gregos, aproximadamente 185 metros, embora haja variações por causa da inexatidão causada pelos diferentes tamanhos de pé em cada região da Grécia antiga. A medida representava a da pista onde eram disputadas as corridas pedestres. A de Delphi, por exemplo, construída no quinto século antes de Cristo, tinha 177 metros de extensão em razão dessa variação regional. Na época de Roma, essa medida equivalia a um oitavo de milha romana. Os locais dessas competições começaram a ser conhecidos como estádios, o que perdura até hoje e se estendeu para o futebol e outras modalidades disputadas sobre grama.
A palavra “arena” vem do latim “harēna”, que significa “areia”. Como o piso dos anfiteatros de combate romanos era de areia porque havia a necessidade de rápida absorção do sangue dos combatentes, chegou-se ao termo “arena” para designação de lugares como o Coliseu. No inglês, por exemplo, esse substantivo foi introduzido no século XVII e para designar esses anfiteatros romanos. O Houaiss, dicionário brasileiro, apresenta como primeiro significado de “arena” o seguinte: “Parte central dos anfiteatros romanos, coberta de areia, onde se realizavam espetáculos de combate entre gladiadores ou entre feras, e que, por ocasião de determinadas datas ou festas cívicas, servia de palco para a entrega às feras de condenados comuns ou cristãos”.
No Brasil, ainda houve outro significado para Arena durante o regime militar: Aliança Renovadora Nacional, partido que sustentava politicamente o governo.
“Estádio”, então, significa muito mais para o esporte do que “arena”, uma palavra que, embora represente grandes obras arquitetônicas como o Coliseu, na Itália, está muito mais associada historicamente a sangue e mortes. Não há, porém, carga negativa alguma em “estádio”, que, além disso, representa bem em todos os aspectos os novos complexos esportivos de futebol. E não compromete em nada o caráter multiúso dos novos empreendimentos. “Palco”, em inglês, é “stage”, o que também tem muito a ver com “estádio”.
No Esportividade, a preferência é pelo uso de “estádio”. Não há, porém, como ignorar a palavra “arena” quando ela é usada no nome de um estádio, como é o caso de Arena Corinthians.
Este texto teve como inspiração inicial um debate sobre o assunto no canal por assinatura ESPN Brasil há alguns meses.
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O Sr. Andrei Spinassé está de parabéns. Eu concordo que o termo arena para estádios de futebol não soa bem. Parece que estamos retrocedendo na história, e acho que a imprensa esportiva não deveria incentivar essa mudança. Futebol se joga na grama, e não ( com excessão do futebol de praia ) na areia.