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Basquete 17/10/2014

Paula pede à CBB planos mais claros para o basquete feminino, em crise

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade
Ex-jogadora Paula (Divulgação)

Ex-jogadora Paula (Divulgação)

No mesmo dia, 15 de outubro, em que Paula concedia uma entrevista sobre a situação do basquete feminino no Brasil, o Rio Claro anunciava encerramento das atividades. A equipe, uma das oito participantes da LBF 2013/2014, tem ainda programada a disputa da semifinal da principal divisão do Paulista – o qual conta com apenas quatro times – neste sábado, às 18h, no ginásio do Pedro Dell’Antonnia, em Santo André. A situação precária das jogadoras brasileiras ficou ainda mais evidente no Campeonato Mundial feminino, em que a seleção, vencedora do título 20 anos atrás, venceu apenas um dos quatro jogos que disputou.

A campeã mundial de 1994 nota uma falta de questionamento das atletas atuais, que poderiam pedir à CBB explicações sobre o planejamento (ou a falta dele). “Antes de começar o Mundial, escrevi um texto dizendo que não deveríamos esperar nada das meninas. Se não se preparam as gerações, não podemos cobrar delas. Mas não dá para ficar no discurso do ‘estamos renovando’. Falta um pouco mais de postura das jogadoras, que deveriam questionar o que [a Confederação Brasileira de Basquete] pensa para elas”, disse Paula.

A falta de clareza da CBB incomoda a “Magic”: “Eles têm de dizer o que querem; por exemplo, ‘vamos colher frutos com essa geração daqui a oito anos’. Acaba o Mundial e ninguém sabe o que é feito. Daí, às vésperas da Olimpíada, vão dizer ‘estamos renovando’.  Essa situação gera comodismo e zona de conforto para as jogadoras, principalmente as que já estão há mais tempo na seleção. Desde Sydney, ninguém sabe para onde vai o basquete feminino, de que jeito vai, o que será feito”.

Paula deu uma sugestão para o desempenho nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro não ser tão fraco assim, já que, sem resultados, os patrocinadores ficam ainda mais escassos. “Poderia ser montada uma seleção permanente, e as meninas treinariam e competiriam por um ano e meio. Quando chegassem lá, fariam menos feio. Agora, esperar um ano e meio para dizerem que estão renovando de novo… Não se preparam as novas gerações; só ficamos nesse discurso de ‘estamos renovando’, que é adotado desde 2011”, afirmou.

Um problema é a falta de um calendário mais longo. Para o Rio Claro, por exemplo, a LBF começou em 2 de dezembro de 2013 e terminou em 27 de fevereiro, já que não avançou às quartas de final. No Paulista, as quatro equipes só disputarão cinco jogos cada uma no total.

“Se ficar uma competição morna de três meses, o que você vai fazer nos outros oito meses com as jogadoras? Aí dependemos das meninas que atuam na lá WNBA, que também jogam por três ou quatro meses lá. Joga-se pouco internamente e pouco internacionalmente. Como você quer dar bagagem para uma geração futura assim?”, afirmou Paula, que sugeriu que houvesse duas jogadoras estrangeiras em cada time da competição nacional, trazidas por um patrocinador, para que o basquete voltasse a chamar a atenção de garotas.

“Os dirigentes têm de dizer o que eles propõem ao basquete feminino brasileiro. Por outro lado, as meninas não podem deixar a geração delas passar em branco”, declarou a ex-jogadora, mencionando Érika (do Atlanta Dream), Adrianinha e Damiris (do Minnesota Lynx) – esta mais jovem. Iziane não foi ao Mundial.

Enquanto isso, no masculino…

O Flamengo foi recentemente o campeão Copa Intercontinental, superando o Maccabi. O NBB tem se fortalecido. Apesar de a seleção masculina, eliminada nas quartas de final pela Sérvia, ter dado a impressão de que poderia chegar um pouco mais longe, o desempenho não foi decepcionante, e a vitória sobre a Argentina nas oitavas de final foi marcante. “Não dá para compararmos masculino com feminino. O masculino tem muito mais times. Nós estamos perdendo a matéria-prima; não estamos formando jogadoras. Só ficamos esperando surgir um talento – e não surge. O NBB está no caminho certo, mas existe uma quantidade de jogadores brasileiros de nível muito maior que jogadoras. A geração masculina é melhor que a feminina”, disse a medalhista olímpica de prata de 1996.

A ex-jogadora fez uma avaliação positiva da aproximação do NBB com a NBA. “Eles vão fazer o que eles sabem fazer, que é o show, o espetáculo, o que ainda estamos aprendendo a fazer. É interessantíssima essa parceria com a NBA, porque é o campeonato mais organizado do mundo.”

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