Pacaembu e rugby encontram-se quando um mais precisa do outro
Fila enorme diante do portão principal, estádio do Pacaembu, público recorde. Há uma década, praticamente ninguém poderia imaginar que essa seria uma descrição de uma partida da seleção brasileira masculina de rugby XV – e a grande maioria pensaria que seria a de um jogo de futebol. Nem mesmo a Confederação Brasileira de Rugby esperava que tanta gente fosse ao Paulo Machado de Carvalho na noite de sexta-feira, dia 4 de dezembro de 2015. A prova disso foi o fato de ter aberto apenas uma entrada, o que provocou um acúmulo de pessoas. Por causa disso, novos espectadores ainda chegavam às arquibancadas nos primeiros minutos do segundo tempo do test match Brasil x Alemanha, visto por 10.480 (recorde brasileiro), que doaram livro a fim de obterem ingresso.
Na verdade, o ano de 2015 não era, até então, muito favorável para os grandes eventos do rugby na região metropolitana de São Paulo. Foi evidente a redução do público presente na etapa do Circuito Mundial feminino de sevens de 2014 para 2015 na Arena Barueri. E foi uma decepção o “maior scrum do mundo” não ter sido realidade no estádio do Ibirapuera, em 24 de outubro, no intervalo entre as semifinais do Super 8: cerca de 800 pessoas participaram da ação – seria necessário haver 1.161.
Mas o Pacaembu foi capaz de mudar esse cenário e o ânimo dos que gostam de rugby, fazendo-os acreditar ser possível popularizar a modalidade. Não tanto pelo resultado, já que a seleção brasileira, 42ª mais bem ranqueada, foi derrotada pela alemã, 27ª, por 31 a 7, mas sim pelo interesse do público. A atual geração de jogadores dificilmente vai render muito mais que isso, e o que se espera é que, com o trabalho atualmente em andamento nas divisões de base promovido pela CBRu, as futuras cheguem à seleção adulta mais bem preparadas.
E o Pacaembu pode ser a casa delas. “O Pacaembu é meu, é seu, é nosso”, diz a música que foi bastante tocada antes de Brasil x Alemanha. É baseada no bordão de Edson Sorriso, locutor do estádio municipal. “Gigante jamais adormecido”, afirma essa mesma música. No entanto, o Paulo Machado de Carvalho esteve com “muito sono” em 2015. Como os três grandes clubes de futebol da capital paulista agora possuem estádio próprio, é pouco usado. O Santos quase não tem o utilizado, tendo mandado lá apenas três jogos neste ano. Palmeiras, Portuguesa e São Paulo exerceram mando de campo lá duas vezes cada um.
Pacaembu e rugby encontram-se em um momento em que precisavam um do outro. Ambos necessitavam de uma novidade. Foi bem isso o que aconteceu.
A chegada do rugby ao Paulo Machado de Carvalho acontece em um momento de indefinição do futuro do estádio. A prefeitura realizou um chamamento público para que interessados enviassem estudos sobre modernização e gestão. Uma das três empresas participantes, Arena Assessoria de Projetos, chegou à conclusão de que “o atendimento ao edital pressupõe um investimento substancialmente superior ao de sua proposta, gerando uma TIR [taxa interna de retorno] insuficiente”, segundo o próprio Diário Oficial da Cidade de São Paulo de quarta-feira, dia 2 de dezembro.
A modalidade da bola oval faz mais sentido do que nunca ao Pacaembu. E vice-versa. Agora os Tupis se preparam para o duelo diante da Colômbia, no próximo sábado (no dia 12), às 21h, no estádio do Canindé. Quem vencer o jogo permanecerá na elite sul-americana da modalidade de XV. O espectador entra no estádio mediante a entrega de 1 kg de alimento não perecível.