São Paulo - região metropolitana
Corrida de rua 17/08/2022

Organizadores começam reconstrução reconhecendo fraquezas e se ajudando

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade

Marcos Pinheiro, da Sportion, e Guilherme Celso, da Chelso, falam da Abraceo (Esportividade)

Os três anos entre uma edição do Ticket Sports Summit e outra foram um período muito conturbado para os organizadores de eventos esportivos participativos brasileiros (de corrida de rua/trilha, ciclismo e triatlo, por exemplo), e o segundo encontro do TS, realizado no Allianz Parque, pode ser considerado muito mais “pés no chão” do que o primeiro, ocorrido no estádio do Pacaembu, em São Paulo também. “Influenciadores digitais milagrosos” não tiveram espaço, e a realidade impôs-se em 16 de agosto de 2022.

Dizia-se, em 2019, haver a necessidade de uma “revolução” do setor, que já apresentava, àquela época, sinais de recessão; em 2022, com a crise agravada por uma longa paralisação dos eventos em decorrência da pandemia de covid-19, percebeu-se que é preciso discutir as bases do negócio.

E quais são elas? Uma é socioeconômica – a população brasileira ainda pouco pratica esporte, e a maioria das pessoas dispõe de pouco ou nenhum dinheiro para se inscrever em uma corrida de rua, por exemplo – e outra é empresarial – as empresas do setor, em geral, carecem de visão estratégica e mal conseguem estabelecer relações com participantes e patrocinadores.

Daniel Krutman, CEO do Ticket Sports, maior site/aplicativo brasileiro de venda de inscrições para esse tipo de evento, deu um exemplo: o Brasil, com população de 212 milhões, tem um mercado que movimenta R$ 400 milhões por ano; já o da Austrália, com 25 milhões de habitantes, faz circular US$ 1,2 bilhão.

Apesar de as empresas poderem contribuir para o aumento da prática esportiva no país, elas nem sequer têm conseguido aproveitar todo o potencial dos já praticantes. É nítida a insatisfação da maior parte deles com preços de inscrições. Além de ser uma consequência do pequeno poder aquisitivo do brasileiro, isso é sinal de que essas pessoas – bem como potenciais patrocinadores – percebem pouco valor associado aos eventos.

Palestrantes do TS Summit disseram: patrocínio não é ajuda ou doação, e existe ainda uma grande dificuldade de transmitir aos patrocinadores quais são os ganhos comerciais ao investir em um evento – também não se buscam informações suficientes sobre a empresa sondada nem há a devida preocupação em saber de seus anseios.

Depois de efetuar a inscrição, o atleta muitas vezes não é mais contatado pelo organizador, e não se aproveita a oportunidade ímpar de ter um cliente acessível por meses. Não se constrói, na maior parte das vezes, uma relação (que pode ser digital) com ele. Perde-se a chance de o evento ser algo maior do que o dia da prova em si.

Existe esperança de mudança desse panorama, porém. A melhora do trabalho de base, desta vez, não é apenas um sonho: por meio da Abraceo, a associação nacional de organizadores surgida em meio à pandemia de covid-19, os empresários têm, enfim, compartilhado conhecimento – inclusive com organizadores sendo do staff de eventos de (outrora) concorrentes. O recomeço é uma reconstrução coletiva.

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