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Corrida de rua 30/08/2024

O conto de fadas dos 42,195 km: o desafio de correr três maratonas seguidas na Europa

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade e Renata Sá, repórter do Esportividade

Editor do Esportividade corre 3 maratonas (42,195 km) seguidas na Europa entre abril e maio de 2024 (Sportograf)

Quem poderia imaginar que as corridas de rua, especialmente as de longa distância, como as maratonas, e os contos de fadas pudessem conter semelhanças? Em provas de 42,195 km, que levam corredores amadores brasileiros a percorrer milhares de quilômetros até a Europa – antes mesmo de calçar o tênis –, há uma série de paralelos que poderiam colocar os atletas dispostos a encarar tamanho desafio no mesmo patamar dos heróis de histórias que permearam por gerações o imaginário popular e são conhecidos até hoje em diversas culturas.

Estátua de bronze e granito de “A Pequena Sereia”, em Copenhague, na Dinamarca (Esportividade)

Em uma dessas maratonas, a de Copenhague, na Dinamarca, por exemplo, tais particularidades ficaram ainda mais evidentes. Foi na capital dinamarquesa onde Hans Christian Andersen viveu a maior parte da vida dele. Autor de “A Pequena Sereia”, Andersen foi uma das figuras mais importantes da literatura infantojuvenil, e as histórias criadas por ele atravessaram oceanos e chegaram aos “quatro cantos do mundo”, inclusive ao Brasil. Andersen foi tão marcante para os contos de fadas que um importante prêmio internacional leva seu nome. Três brasileiros já foram agraciados com ele, que é considerado o “Nobel da literatura”: as escritoras Lygia Bojunga, em 1982, e Ana Maria Machado, em 2000, e o ilustrador Roger Mello, em 2014. Para uma das vencedoras do prêmio, a escritora Ana Maria Machado, a origem dos contos de fadas deve ser muito antiga e retrata alguns dos ritos de passagem das sociedades primitivas.

Atletas de diversas partes do mundo correm na Vienna City Marathon, a Maratona Cidade de Viena (Jenia Symonds/VCM Group)

Fazendo uma analogia com a maratona, que já nasce de uma das histórias mais fantásticas da Grécia antiga – a de que um soldado grego sacrificou a vida ao percorrer correndo a distância que separava as cidades de Maratona e Atenas (cerca de 40 km) para contar que eles tinham vencido a guerra –, tanto os contos de fadas como as maratonas são datados de tempos muito antigos.

Assim como nas histórias clássicas, para correr uma maratona é preciso seguir um “norte” – por assim dizer. A inspiração do herói é o motivo para que qualquer narrativa comece, e por que não pensar na vontade de superar os próprios limites como o passo inicial de um corredor? Na sequência de uma grande história, o personagem inicia uma jornada, deixando seu lar, sua família ou mesmo seu país. E, mais uma vez, os atletas executam esse mesmo caminho em busca dos seus sonhos.

Referência aos games Super Mario: público foi às ruas durante a Maratona de Viena para dar “energia” aos maratonistas (Esportividade)

Em seguida, o herói vê-se diante do desafio. O que é correr 42,195 km a não ser um desafio a ser encarado? Em meio a grandes desafios, sempre existem algumas provações, sendo o protagonista testado a todo instante. É nessa hora que entra a figura do mentor/mediador, que pode ser transferido na corrida de rua para as famílias que acompanham os maratonistas ou mesmo os apoiadores, que lotam as ruas para oferecer apoio. E, por fim, a conquista do objetivo, quando os heróis-corredores cruzam a linha de chegada e, após tal desafio, levam para casa a “prova” do seu grande ato, que é a medalha.

Vídeo curto: Maratona de Copenhague é rito de passagem:


Indo um pouco mais além, o que é uma corrida de 42,195 km senão um rito de passagem dos corredores a fim de alcançar o patamar que apenas uma fração mínima da população mundial é capaz de conquistar? Na edição de 2024 da Maratona de Copenhague, cidade em que existe uma estátua de “A Pequena Sereia” em homenagem a Andersen, 15 mil corredores viveram sua própria história de superação em 5 de maio de 2024. E o evento teve a universalidade dos contos de fadas, uma vez que 46% dos participantes foram estrangeiros – havia 38 brasileiros na lista de inscritos.

Os jornalistas Andrei Spinassé e Renata Sá cobriram 3 maratonas seguidas na Europa nos meses de abril e maio de 2024 (Esportividade)

Apesar de tantos significados, a Maratona de Copenhague não é a única que encanta corredores amadores brasileiros. Existem diversas outras provas de 42,195 km na Europa capazes de fazer com que cada vez mais brasileiros se preparem para esse rito de passagem.

A equipe do Esportividade percorreu o continente europeu, nos meses de abril e maio de 2024, a fim de correr e cobrir três maratonas internacionais: as de Viena, na Áustria (21/04), Copenhague, na Dinamarca (05/05), e Luxemburgo (11/05). O relato a seguir procura mostrar cada uma delas, revelando que, ao viver “o conto de fadas dos 42,195 km”, o corredor amador perceberá que a jornada do herói dos contos maravilhosos é tão grandiosa e desafiadora quanto a deles.

“Maraturistas” – são muitos e estão por todo lugar

Torcedores seguram cartazes durante maratona em Copenhague (Esportividade)

Uma das melhores experiências que um corredor amador pode ter é participar de uma prova que lhe permita conhecer lugares, ter contato com outras culturas e conectar-se com pessoas do mundo inteiro. Chamados de “maraturistas”, os atletas viajam para correr. Ou será que eles correm para poder viajar?

Independentemente da resposta, os “maraturistas” brasileiros viajam muito e correm muito. E eles, geralmente, não vão sozinhos. De acordo com uma pesquisa sobre a relação entre viagens e esporte, realizada pelo Ticket Sports, maior site de vendas de inscrições para eventos esportivos do país, 95,4% dos entrevistados pretendiam viajar para participar de algum evento esportivo em 2024.

Acompanhados por colegas corredores das assessorias esportivas, por amigos ou mesmo pela família, esse grupo de pessoas enxerga no esporte a oportunidade de correr em locais diferentes, bem como a chance de conhecer a cidade que recebe a maratona, tornando a experiência ainda mais significativa. Ainda segundo o TS, 53,6% dos atletas que responderam à pesquisa disseram que preferem viajar acompanhados da família, mostrando assim que, além de correrem em outras cidades e países, os atletas também estão dispostos a fazer turismo nesses locais.

Na Maratona de Viena, torcedor brinca com os corredores informando que “só faltam 20 km” para concluir o percurso (Esportividade)

Foi para fornecer informações a fim de que mais brasileiros sejam “maraturistas” que o editor do Esportividade, o jornalista Andrei Spinassé, participou das três provas seguidas, encarando um desafio inédito para ele, com o objetivo de relatar aos colegas corredores amadores brasileiros como são os três eventos – desde a inscrição até a obtenção da medalha. Já a repórter Renata Sá exerceu uma função complementar à de Andrei: participou de provas mais curtas (a de 5 km em Viena, por exemplo) e, quando da maratona, apresentou sua visão de espectadora – além, é claro, de conhecer os países. E vários dos principais eventos de corrida europeus, como a Vienna City Marathon e a ING Night Marathon Luxembourg, incluem provas de outras distâncias (não só os 42,195 km), permitindo que os acompanhantes também sejam participantes.

A acolhedora Maratona de Viena, na Áustria

Andrei vibra ao cruzar a linha de chegada da Vienna City Marathon, na Áustria, em abril de 2024 (Sportograf)

Participar de uma maratona em um país muito distante do Brasil, como a Áustria, e em outro continente, como a Europa, faz o corredor ter a sensação de estar deslocado de tudo e todos? Na Vienna City Marathon, a experiência do maratonista foi surpreendentemente até mais pessoal que em muitos dos eventos de corrida de rua brasileiros. Mesmo estando em meio a participantes dos “quatro cantos do mundo”, graças às ações dos organizadores (VCM Group), os atletas puderam se sentir valorizados, especiais e acolhidos. Na 41ª edição da Maratona Cidade de Viena, evento que aconteceu nos dias 20 e 21 de abril de 2024, o Brasil foi um dos países que receberam maior atenção, com trilha sonora de “Brasil-sil-sil” para seus atletas na reta final.

Igreja de São Francisco de Assis é vista no primeiro km da Vienna City Marathon (Esportividade)

Levando em consideração os 42.625 inscritos (10.024 na maratona) de 143 países, incluindo participantes das provas de sábado (5 km, Coca-Cola Inclusion Run e infantojuvenis) e domingo (os 42,195 km, os 21,097 km e uma maratona de revezamento), os organizadores realmente promoveram um evento internacional em 2024: a locução era bilíngue, em inglês e alemão, e o locutor até apresentou a lista dos dez países com mais representantes no evento – com direito a uma música de cada um deles. Os espectadores prepararam cartazes para os corredores, alguns deles com frases bem-humoradas, como “Sorria, você pagou por isso” (tradução do inglês). Na plateia também se viram bandeiras do Brasil e camiseta da seleção brasileira de futebol, incentivando os 26 brasileiros que completaram a maratona e os 39 que chegaram ao fim da meia maratona.

Andrei aponta para vídeo gravado por Renata, visto por ele na Vienna City Marathon (Esportividade)

Um grande momento foi quando, na segunda metade da prova, dentro do parque Prater, o Andrei assistiu ao vídeo que a repórter Renata Sá havia gravado para ele quando, na semana anterior, estavam em Stuttgart, na Alemanha. Funcionava assim: por meio do site da Vienna City Marathon, amigos e parentes dos participantes podiam enviar um vídeo de até dez segundos, e o corredor, se tivesse a sorte de passar por um sensor na hora da transição de imagens no telão, teria o vídeo exibido no momento de sua passagem. E ele deu sorte! A mensagem dela foi bastante motivadora, ainda mais para quem tinha quase 20 km de corrida pela frente.

Vídeo curto: “Brasil-sil-sil” na Vienna City Marathon:

Mas esta não seria a única vez que a tecnologia estaria a favor da dupla brasileira em Viena. Nos últimos metros da primeira de três maratonas seguidas que o atleta correu, o locutor notou a presença do repórter também devido à tecnologia empregada, falou o nome dele ao vivo e mencionou o Brasil. E, nesse meio-tempo, o DJ soltou a famosa trilha “Brasil-sil-sil” para todos a ouvirem na chegada.

Prova de 5 km na 41ª edição da Vienna City Marathon, na Áustria (Esportividade)

No dia anterior à prova de 42,195 km, a repórter Renata participou da de 5 km. O percurso curto possibilitava que outros membros da família, que também estavam em viagem, mas ainda não correm maratonas, pudessem participar do evento. Mesmo sob uma chuvinha que ia e vinha e com a temperatura despencando, os atletas correram nas ruas da capital austríaca, na Europa.

Torcida incentiva atletas durante a prova de 5 km da Vienna City Marathon-24 (Esportividade)

O público também fez a parte do evento e permaneceu firme em diversos pontos, oferecendo apoio aos corredores. Por causa do número de peito que privilegiava o nome do atleta, a todo instante ela recebia incentivos das pessoas que assistiam ao evento. “Go, Renata”, com uma forte entonação no “R”, foi o que mais ouviu enquanto corria.

Público aguarda passagem dos atletas na prova de 5 km da Vienna City Marathon-24 (Esportividade)

A maneira como os cidadãos se comportaram durante a prova foi algo bastante interessante. Devido às ruas fechadas, as pessoas nos carros, trens de superfície e motocicletas aguardavam paradas a liberação das vias próximas ao percurso; tal paralisação momentânea, porém, não parecia aborrecê-las; muito pelo contrário: o evento fazia parte da cidade. Em uma das vias fechadas, era possível ver pessoas descendo dos transportes públicos para assistir à corrida. Outro diferencial bem interessante foi que, em razão da posição geográfica e da estação do ano (primavera) na Europa, mesmo em uma corrida de fim de tarde (a prova começou às 18h15), os atletas percorreram os 5 km em total claridade.

O super-humano Eliud fez história em Viena

Eliud Kipchoge batendo recorde extraoficial em Viena (Bob Martin for The INEOS 1:59 Challenge)

Alguns lugares do mundo podem ser considerados “solos sagrados” da corrida de rua. Fazem parte dessa lista, certamente, Maratona e Atenas, na Grécia, e Boston, nos Estados Unidos. O que pouca gente sabe é que Viena, na Áustria, integra esse seleto grupo. E não se trata apenas de um passado glorioso. Além de Viena receber eventos de corrida há mais de 200 anos, foi na capital austríaca que, em 2019, o queniano Eliud Kipchoge tornou-se a primeira pessoa a completar uma maratona em menos de duas horas. Foi na Hauptallee, que recebe eventos de corrida desde 1822 e pela qual a Vienna City Marathon passa, que Kipchoge percorreu 42,195 km em 1h59min40seg e virou o primeiro ser humano a obter um tempo inferior a duas horas em uma maratona. A marca foi conquistada no INEOS 1:59 Challenge, para o qual foi montado um circuito na Hauptallee. Como não se tratava de uma prova, e sim de um desafio cujo protagonista era o queniano, um recorde oficial não poderia ser estabelecido – e não era essa a ideia mesmo.

“Maraturistas” correm pelas ruas de Copenhague

Repórter Renata Sá corre próximo à estátua de “A Pequena Sereia”, em Copenhague (Esportividade)

Faltando alguns dias para a Maratona de Copenhague, a segunda das três provas que a equipe do Esportividade iria correr e cobrir durante 30 dias de viagem pela Europa, editor e repórter desembarcaram na Dinamarca. Na capital, eles queriam se familiarizar com a cidade, buscando, inclusive, pontos por onde os atletas passariam nos 42,195 km da prova. Copenhague, além de uma das cidades mais acolhedoras para quem deseja visitá-la, é bastante plana, o que possibilita conhecê-la correndo, por exemplo.

Vídeo curto: conhecendo Copenhague correndo:

@esportividade Você já conheceu uma cidade correndo (literalmente)? Foi o que fizemos em Copenhague, capital da Dinamarca, às vésperas da maratona. #running #runners #runner #run #maratonistas #marathon #maratona #corridaderua #corrida #denmark #Dinamarca #copenhagen #Copenhague #corredor #corredores ♬ Vivid Life Forever / Scandinavian Pop / Hopeful / Vitality / Travel / Health / Beauty / Celtic / Irish / Travel / Tourism / Port(1135122) – Ney

Em um dos treinos pré-prova, eles partiram de um dos pontos turísticos mais conhecidos, a estátua de bronze e granito de “A Pequena Sereia”, que representa a personagem icônica criada pelo dinamarquês Hans Christian Andersen. Enquanto percorriam a pista do pier Langelinie, onde a estátua está localizada, turistas de diversas partes do mundo se revezavam para tirar um retrato com a sereia, esculpida por Edvard Eriksen, o que apenas confirma a universalidade dos contos de fadas.

Parada obrigatório no treino: Nyhavn (Porto Novo) (Esportividade)

De lá, correram em direção à Kastellet, uma fortificação em formato de estrela de cinco pontas fundada em 1626. Hoje em dia, o local é usado como um QG militar, e o jardim em volta é aberto ao público. Os atletas que estão dispostos a encarar algumas poucas subidas no local podem encontrar uma das vistas mais bonitas da cidade. Ainda correndo pelas ruas de Copenhague, chegaram a um dos principais cartões-postais da cidade: Nyhavn (Porto Novo). As casinhas de cores típicas e o canal que passa pelo meio delas oferecem a oportunidade de parar alguns instantes para retomar o fôlego e admirar a vida acontecendo no local.

Região onde ficava a bolsa de valores, atingida por um incêndio em abril de 2024; o local passa por restauração (Esportividade)

A cerca de 1,5 km de lá se encontra o Børsen, que ficou bastante destruído após um incêndio que o atingiu em abril de 2024. Depois do trágico acidente no antigo prédio da bolsa de valores, a cidade começou rapidamente a recuperação do imóvel. Os maratonistas passariam por ali e, devido ao incêndio, houve uma pequena alteração no trajeto.

Quebrando barreiras na Maratona de Copenhague, na Dinamarca

Atletas passam pela ponte da rainha Louises na Maratona de Copenhague (Sparta/Divulgação)

Diferentemente dos Jogos Olímpicos ou da Copa do Mundo de futebol, competições em que há uma disputa entre nações, no nível amador da corrida de rua existe realmente um grande senso de coletividade. Na Copenhagen Marathon de 2024, realizada em 5 de maio, com cerca de 47,3% medalhistas estrangeiros, os “quatro cantos do mundo” uniram-se, ajudaram-se, motivaram-se. A América do Sul fez parte disso, é claro. Quarenta e três brasileiros, 15 argentinos e oito chilenos, por exemplo, se inscreveram na prova de 42,195 km. Dezoito japoneses e 51 sul-africanos ajudam a ilustrar esse “mosaico”. Cada um deles teve a bandeira de seu país impressa no número de peito, que fica na parte da frente do corpo.

Copenhagen Marathon, a Maratona de Copenhague (Sparta/Divulgação)

Estrangeiro na maratona, o editor do guia esportivo sentiu o apoio dos próprios colegas corredores: várias vezes foi incentivado a não diminuir a velocidade (com um toque ou um bem-vindo grito motivador) por alguém que percebia que o brasileiro estava prestes a fazê-lo. A fim de tentar encontrar outros corredores do Brasil durante a prova, Andrei grudou na parte traseira da camiseta a bandeira do país; e a iniciativa surtiu efeito, inclusive com alguns compatriotas falando (brevemente, é claro) com ele durante a prova.

Reta final da Copenhagen Marathon de 2024 (Esportividade)

Os moradores de Copenhague e os familiares e os amigos dos participantes estrangeiros compareceram em grande número às ruas da capital dinamarquesa a fim de apoiar os corredores. A presença do público, nos últimos 500 metros da maratona, era ainda maior. Ali, mesmo cansados, corredores eram levados a gastar a (pouca) energia restante para completar os 42,195 km, com a frase da campanha da Nike na Copenhagen Marathon, “15 mil corredores, e só você pode derrotar a si mesmo”, passando a fazer ainda mais sentido.

Representação do muro próximo ao km 30 da Maratona de Copenhague (Sparta/Divulgação)

Outra ação da marca esportiva na prova trouxe a representação visual do temido “paredão” em uma maratona. Algumas pessoas, de forma leviana, podem acreditar que uma maratona é composta por duas meias maratonas, isto é, por duas provas de 21,097 km. Na prática, não é bem assim, e até mesmo os atletas mais experientes podem ser impactados pelos desgastes físico e mental por volta do km 30. É ali que que fica a “muralha”, que pode levar os corredores a “quebrar” durante uma maratona. A Nike, querendo transmitir essa sensação, instalou uma “parede d’água” para que os atletas a atravessassem, transformando esse delicado momento de prova em mais um combustível para levá-los até a linha de chegada.

A noturna Maratona de Luxemburgo

Andrei ao fim da ING Night Marathon Luxembourg, a 3ª maratona dele em 4 semanas (Marathon Photos)

Imagine uma maratona que começa no fim da tarde, é embalada por um festival de samba e encerra-se à noite, período em que balões iluminados e jogos de luzes criam um clima especial ao caminho dos corredores. Em um primeiro momento, parece se tratar de uma corrida de rua no Brasil. A Maratona de Luxemburgo é muito, muito mais que uma maratona noturna.

Denominada oficialmente ING Night Marathon Luxembourg, chegou no dia 11 de maio de 2024 à 17ª edição, na qual ficou evidente que não necessariamente foi a fase noturna o ponto alto. Por mais que participar de uma maratona à noite seja algo bem inusitado, que chame atenção de corredores de 124 nações, o que se viu antes antes do pôr do sol foi um espetáculo promovido pelos próprios luxemburgueses.

Famílias assistem à passagem dos corredores em Luxemburgo (Esportividade)

No bairro residencial de Limpertsberg, no noroeste da capital do Grão-Ducado de Luxemburgo (Europa), um dos menores países do mundo, famílias foram à porta de casa a fim de acompanhar a corrida – e mais que isso: apoiar os participantes. Em alguns lugares, parecia até “Copa do Mundo”, com crianças deixando mensagens, escritas a giz no asfalto, para os corredores. O clima era o de uma grande festa comunitária ao ar livre, encerrando alegremente o sábado, uma vez que já eram mais de 19h30.

Crianças na rua de casa cumprimentando corredores (Esportividade)

Não foram poucas as ocasiões em que as crianças deixaram a mão para cumprimentar os participantes, e algumas delas até incorporaram a maratona a alguma brincadeira. A ING Night Marathon Luxembourg trouxe o esporte a elas, à casa delas, e as tornou parte de um grande evento, algo a ser levado para toda a vida delas. Ainda em Limpertsberg, parte iniciada no km 7 que durou pouco mais de seis quilômetros, os corredores foram entretidos por apresentações artísticas – as quais, na verdade, estiveram presentes ao decorrer da prova.

Na largada, autorizada às 19h, quando fazia cerca de 22ºC, no centro de exposições Luxexpo The Box, já deu para perceber que a maioria dos atletas era composta por inscritos na meia maratona (21,097 km). Os maratonistas, embora fossem minoria, teriam pela frente um desafio muito maior, já que não se tratava apenas do dobro da distância: o percurso da maratona (42,195 km) ficaria mais difícil justamente quando os maratonistas estivessem sem a companhia dos colegas de 21k. A certa altura, restariam os maratonistas e os membros das equipes inscritas na maratona de revezamento.

Região central de Luxemburgo recebe maratona (Esportividade)

O primeiro trecho da multifacetada e cheia de curvas Maratona de Luxemburgo foi o do Kirchberg, distrito em que existem modernos edifícios, que faz lembrar de que, apesar de pequeno, o Grão-Ducado de Luxemburgo é financeiramente próspero. A modernidade de Kirchberg contrasta-se com a antiga (e conservada) região central, onde se deu a terceira fase da prova – a segunda foi a de Limpertsberg.

Grupo toca samba, com bandeira do Brasil, na Maratona de Luxemburgo (Esportividade)

Foi no Ville-Haute, “coração” da região central, que um grupo tocando samba deixou clara a influência brasileira, com a bandeira do Brasil pintada em um instrumento. Foi ali que turistas misturavam-se mais aos luxemburgueses, assistindo à maratona antes do jantar, por exemplo. Como quinta-feira, 9 de maio, tinha sido Dia da Europa, tratava-se de feriado prolongado, e a cidade estava com grande ocupação hoteleira – não só por causa da maratona.

Em Luxemburgo, apoio na região central a maratonistas (Esportividade)

E também ali, por volta do km 15, os inscritos na maratona tiveram de tomar uma decisão: tentar completar os 42,195 km ou optar pelos 21,097 km, recebendo ainda medalha dos 21k. A separação das distâncias, portanto, foi efetuada naquele momento. Quem tomou a decisão de manter-se na maratona foi amplamente recompensado: já com a noite se aproximando, depois de correr dentro do Parque Municipal, em via estreita, e em outro bairro residencial, Belair, teve uma experiência única quase no 28º quilômetro: a passagem pela passarela elevada, com jeito de túnel, sob a pista principal da ponte Adolphe, construída no começo do século XX.

Vídeo curto: a multifacetada Maratona de Luxemburgo:


No 29º quilômetro, iniciou-se uma descida, feita já à noite pela maioria dos participantes, que, em seguida, correram às margens do rio Pétrusse, observando as fortificações. Na parte mais singular da prova, o silêncio “dava um tempo” às vezes graças a uma atração musical. Os maratonistas precisaram tomar cuidado em alguns trechos mais escuros para não tropeçar. Especialmente em uma rampa em zigue-zague, tiveram a confirmação de que não se tratava de uma prova para a obtenção de recordes pessoais, mas de experiências.

Cerveja oferecida aos participantes na parte final da Maratona de Luxemburgo (Esportividade)

O desafio foi amplificado por volta do km 31, quando uma subida gradual foi iniciada, só terminando a poucos metros da chegada, com ganho de pouco mais de 100 metros de altitude. Foi no último quarto de prova que os corredores viram de perto a vida noturna luxemburguesa, com os “baladeiros” interagindo com eles em vários momentos – até chamando-os pelo nome, uma vez que o nome de cada atleta estava impresso no número de peito. Enfim, na altura do km 37, voltaram ao caminho que os levaria de volta a Kirchberg e, é claro, ao Luxexpo.

Artistas animam a chegada indoor dos 42,195 km da Maratona de Luxemburgo (Esportividade)

Antes de chegarem ao pavilhão onde estava montado o pórtico de chegada, os maratonistas, já no último quilômetro, viram tochas e cada vez mais luzes. Ao entrarem na seção final, uma chegada apoteótica os aguardava, com DJ animado e música contagiante. Ao fim dos 42,195 km, caminharam pela área onde havia acontecido a entrega de kits, receberam uma bela medalha, retiraram pertences no guarda-volumes e puderam acompanhar, ao lado da pista, a conclusão da corrida dos demais atletas. E voltaram para casa ou para o hotel de transporte público. E de graça, pois em Luxemburgo assim o é para todos.

Andrei com bandeira do Brasil no Luxexpo a poucos metros ca chegada (Marathon Photos)

Nas três maratonas, o Esportividade foi apoiado pelas empresas organizadoras, VCM Group, Sparta e Step by Step. A cobertura da Maratona de Copenhague, patrocinada pela Nike, teve ainda o apoio da Embaixada Real da Dinamarca no Brasil. Andrei e Renata se prepararam para o desafio em parceria com ClassPass. O guia esportivo contou também com o apoio da Opticalia, marca espanhola de eyewear que chegou recentemente ao Brasil e pretende revolucionar o mercado de óculos. Nesta temporada, o guia esportivo mostrou como corredores dos “quatro cantos do mundo” unem-se nas maratonas. Não importa o país de origem do atleta: a corrida de rua é o elemento que os conecta, e um incentiva o outro.

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