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Esporte 27/03/2014

Médico fala dos perigos de um atleta ser mal orientado a respeito de doping

Por Esportividade

Quando um atleta decide competir em alto nível, seja no Brasil ou no exterior, tem de estar ciente de que deverá ter uma vida ainda mais regrada do que quando participava de campeonatos amadores. Além de adotar uma dieta balanceada e treinar intensamente, ele necessita do acompanhamento de um médico especialista do esporte para saber quais medicamentos pode ou não ingerir, já que podem conter substâncias proibidas internacionalmente.

A lista de substâncias não permitidas pela Wada (da sigla em inglês Agência Mundial Antidoping) é extensa e atualizada todos os anos. É entre os meses outubro e novembro de cada ano que uma comissão formada por médicos e especialistas ligados ao COI (Comitê Olímpico Internacional) avalia o que os atletas não poderão consumir – sob o risco de punições duríssimas.

Alguns atletas confiam em médicos sem tanto conhecimento do esporte e muitas vezes nem imaginam que podem estar sujeitos a algumas sanções, que marcarão suas carreiras para o resto de suas vidas. Quem alerta é o doutor Bernardino Santi, coordenador do controle de dopagem das confederações brasileiras de boxe, do taekwondo e esgrima.

Os passos da avaliação

Os atletas são submetidos a exames corriqueiramente. No entanto, mesmo que esse competidor tenha um médico do esporte que o acompanhe, se for pego não tem choro nem vela: o médico não pode interferir em nada no resultado.

“Se der positivo para o uso de alguma substância, ou resultado analítico adverso, como é chamado corretamente o encontro de algo que não seja permitido, o atleta pode pedir uma contraprova de exame”, explica Santi.  “Muitas vezes, se o atleta assumir a culpa, sua pena pode ser atenuada.”

Geralmente, exemplifica Santi, o atleta é pego porque toma o remédio que quiser, sem orientação ou até mesmo com a ajuda de médicos despreparados ou aproveitadores. “O problema está nesse jeitinho brasileiro e fácil de se conseguirem as coisas.”

O esportista acaba prejudicado por acreditar em alguém que não entende nada direito. “O cara que se submete a isso é um tonto, e isso tem que acabar.”

E o que é permitido?

Mesmo após o recente caso da proibição de 20 lotes de whey protein pela Anvisa, que avaliou 25 marcas diante de denúncias de irregularidades nas quantidades de carboidrato e proteína declaradas na rotulagem, suplementos podem ainda ser comprados em lojas virtuais, como esta e esta, ou físicas. No entanto, ainda assim, Santi reafirma a necessidade de que o atleta consulte um especialista.

“Pode ser até um nutricionista ligado ao esporte. Mas este precisa ser honesto com o atleta e ter realmente a consciência e responsabilidade sobre o que receita a ele”, acrescenta o médico.

Outro grande erro é acreditar que somente o suplemento salvará a vida do atleta, além de torná-lo forte e mais competitivo. O atleta tem de se tocar que essas atitudes são desesperadas e só enriquecem os aproveitadores. “O que mais derruba esportista é a má alimentação em troca de suplementos”, diz.

Reposição hormonal pode matar!

Ponto que pegou de jeito os competidores de MMA, como Antônio “Pezão” Silva, foi a ingestão desenfreada de repositores de testosterona. Reposição hormonal precisa ser prescrita por um médico do esporte. “A testosterona é um hormônio mais masculino [mais presente no corpo dos homens do que das mulheres]. Claro, aumenta a força, mas prejudica o atleta. Eles são uns tontos em deixarem que alguém o convença de usar esse tipo de coisa”, afirma.

E os efeitos colaterais podem ser sérios. Bernardino Santi alerta: “O cara que faz reposição de testosterona sem necessidade pode ter câncer de fígado, aumento do mau colesterol, problemas linfáticos, diminuição de libido, perda de ereção e capacidade sexual, entre outros problemas graves”.

E não adianta o médico que se diz amigo e parceiro, mas está em busca de dinheiro, dizer que sabe o tanto que pode aplicar no atleta: não há quantidade segura e não existe como prever o que vai acontecer. “Cada organismo age de uma forma.”

O médico enfatiza: “Tem de procurar o profissional correto. Quem recomenda a reposição hormonal somente por recomendar, sem que haja uma patologia clínica envolvida, é um grande mentiroso”.

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