Maratona de Praga: por que a corrida tcheca é uma das mais belas da Europa
O que senti ao participar da Maratona Internacional de Praga foi surpreendente. Era de se esperar que, por causa da distância da República Tcheca em relação ao Brasil em tantos aspectos – como o geográfico, o histórico e o cultural –, me sentisse muito deslocado. Não foi isso o que aconteceu, no entanto: assim que a prova de 2023 começou, qualquer estranhamento cessou. Assim como a corrida de rua, a Maratona de Praga é universal.
Ao percorrer os 42,195 km, não me pareceu, em momento algum, que todos aqueles lugares de Praga dos quais muito se fala, como a ponte Carlos (Karlův most, que começou a ser construída em 1357), a praça da Cidade Velha e a torre da Pólvora, fossem única e exclusivamente símbolos de um país, um povo. Enquanto corria, minha sensação era a de que faziam parte da História – sim, com a “h” maiúsculo – e, portanto, importavam para todos nós.
Além disso, assim que a largada foi autorizada pelo presidente tcheco, Petr Pavel, passei a não ser mais um brasileiro em meio a estrangeiros, e sim um participante, um protagonista do evento ao lado de milhares outros.
Mas, antes do relato da prova, vamos voltar ao verdadeiro começo? Viajar para a República Tcheca exige um planejamento, uma vez que não há voos diretos do Brasil ao país da Europa Central (não é exigido visto). Quem pensa em participar da Maratona de Praga necessita, portanto, considerar as escalas. Como em maio, mês da maratona, existe uma diferença de cinco horas em relação ao horário de Brasília, programe-se para chegar a Praga, no máximo, na sexta-feira pré-prova.
Não há pré-requisitos para inscrever-se na Maratona de Praga – exceto estar apto a completá-la em menos de sete horas. Em 2023, por exemplo, cada inscrição à venda pelo site da RunCzech, principal organizadora de corridas do país, custava de 60 a 110 euros, dependendo do momento em que era feita. Era possível comprar camiseta da adidas, oficial do evento, por 32 euros adicionais. E quem não estava treinado o suficiente para os 42,195 km podia participar da maratona revezando-se com um colega – e cada um completava 21,097 km.
A entrega de kits, efetuada na quinta-feira, na sexta-feira e no sábado, dias anteriores à prova, ocorreu no principal centro de exposições da capital tcheca. Que pôde ser facilmente acessado por meio da rede de transporte público. Os tíquetes do sistema são válidos por tempo, e não por viagem, então não há pagamento extra ao sair do metrô e pegar um bonde, por exemplo, dentro do prazo. A moeda não é o euro: é a coroa tcheca.
Seguindo esse raciocínio, não é necessário, então, se hospedar a poucos metros do ponto de largada e chegada – que, em 2023, estava localizado nas cercanias da estação Můstek, em Praga 1, distrito considerado o “coração medieval” da cidade. O importante é estar próximo ao transporte público. Em 2023, aliás, os corredores, no dia da maratona, tiveram passe livre, o que só foi possível por não haver catracas nas estações.
Quanto ao idioma, o tcheco é realmente difícil de ser compreendido por falantes de português, mas a boa notícia é que, com um inglês “mais ou menos”, é possível se virar facilmente em Praga.
A corrida nos une aos tchecos. O atleta mais famoso do país, Emil Zátopek, que conquistou quatro medalhas de ouro olímpicas e uma de prata, venceu a Corrida de São Silvestre, em São Paulo, em 1953, e foi aplaudido pelos brasileiros.
Voltemos à 27ª edição da Maratona Internacional de Praga. Depois da largada, as estreitas ruas com piso de pedra e trilhos de bonde foram percorridas pelos milhares de participantes sem que houvesse congestionamento – sinal de que eles haviam respeitado a organização dos pelotões conforme o ritmo de prova declarado por cada um. Ao longo da maratona, os pacemakers auxiliaram os participantes a mantê-lo.
Foi nesse trecho sinuoso que o adidas Adizero Prime X com o qual corri mais me surpreendeu: não se mostrou nem um pouco instável. Já sabia que esse modelo de supertênis me daria velocidade e retorno de energia (graças às placas de carbono), mas não imaginava que, contradizendo prognósticos, também pudesse ser estável nessa situação.
O primeiro grande momento veio antes mesmo de o terceiro quilômetro ser completado: a passagem pela histórica ponte Carlos foi quase um “túnel do tempo”, e na saída dela a primeira concentração de torcedores pôde ser vista (a repórter Renata estava ali).
A partir daí, a prova teve sequência às margens do rio Moldava e retornou à zona central; antes mesmo do km 13, eu estava em meio à praça da Cidade Velha pela primeira vez naquela fria (mas bastante agradável para correr, com temperatura entre 10ºC e 15ºC) manhã. A segunda seria justamente no fim da maratona.
Dois quilômetros mais adiante, a Renata me incentivou novamente, mas a força não vinha apenas dela: o público saiu às ruas, e as crianças eram um espetáculo à parte: devo ter batido nas mãos de ao menos quatro para me “energizar”.
Existia uma boa estrutura à disposição dos corredores, como pontos de hidratação e alimentação bem distribuídos – com água, bebida isotônica, banana e sachê de sal, por exemplo –, banheiros e música ao vivo em ao menos 15 trechos. Antes do km 30, torcedores distribuíam de forma voluntária cerveja aos participantes (a República Tcheca é um país cervejeiro), assim como acontece no km 14 dos 15 da São Silvestre.
Tudo colaborou para que cada um pudesse extrair o melhor de si na maratona. A ausência de acentuadas subidas também contou pontos a favor da obtenção de recordes pessoais (foi o meu caso).
Nos últimos quilômetros, em alguns momentos cheguei a caminhar. Quando um colega (o qual eu não conhecia) tcheco viu que eu iria reduzir a velocidade, me deu um toque no ombro como se estivesse dizendo “Continue, falta pouco”. Essa foi a maior prova do dia de como a corrida é universal e une as pessoas.
Nos metros finais dos 42,195 km, senti toda a vibração da torcida, em especial a da Renata, que estava do meu lado direito e segurava uma bandeira do Brasil. Cruzei a linha final após 3h34min08s, quase meia hora a menos que na maratona anterior. Minha evolução teve relação com melhores treinos, inclusive em parceiros de ClassPass, plataforma que utilizei até mesmo em Lisboa, onde passei alguns dias antes de ir a Praga.
Na noite de domingo, 7 de maio de 2023, todos os inscritos puderam participar (de graça e com comida e bebida à vontade) de uma festa de encerramento e de premiação da “Batalha dos Times” no Hilton, o maior hotel de Praga, com direito a um acompanhante. Todos ali eram vitoriosos.
A cobertura do Esportividade da Maratona Internacional de Praga, na República Tcheca, contou com o apoio de Czech Tourism, Adidas Brasil e ClassPass.
Leia o outro texto da cobertura:
Em Praga, na República Tcheca, maratona também é programa de família