Faz 20 anos: clima triste em Interlagos não intimida um jovem espectador
Rubens Barrichello rodou diante de mim há 20 anos, em 25 de março de 1995, dia do meu primeiro evento esportivo. E, quando ele voltava aos boxes, tive a impressão de poder cumprimentá-lo – ou consolá-lo – após o acidente na saída da curva do Laranjinha. O clima era dos mais tensos no autódromo de Interlagos, uma vez que se tratava do primeiro Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 depois da morte de Ayrton Senna. Para mim, no entanto, tudo era tão novo que eu não conseguia me deixar influenciar por aquela tristeza no ar. O que mais me impressionava eram o vermelho do patrocínio da Marlboro na McLaren, mais brilhante que parecia ser na televisão, e o barulho dos motores, muito mais altos que eu, aos oito anos, imaginava.
Dias antes um tio havia conseguido duas credenciais, uma para mim e outra para meu pai, que davam acesso ao Orange Tree Club, setor VIP existente até hoje. Acompanharíamos somente o treino classificatório de sábado, pois os convites não serviriam para o domingo. Nunca havia ido para Interlagos. O autódromo era um mundo totalmente novo para mim. Não me lembro de uma movimentação de público muito grande na avenida Senador Teotônio Vilela, mas havia diversos comerciantes ambulantes no local. Quando finalmente entramos no circuito, queria saber onde ficava o S do Senna. Definitivamente eu não conseguia entender o traçado a partir do Laranjinha e tentava me localizar no mapa.
Assista à saída de pista de Rubens Barrichello:
Aquele sábado nublado e com atmosfera pesada de repente se tornara um dia positivamente inesquecível. Não torcia especificamente por ninguém, mas as atenções de Interlagos estavam voltadas para a Jordan e a Forti Corse por causa de Rubinho – assim quase todos os brasileiros o chamavam –, Pedro Paulo Diniz e Roberto Moreno. A saída de pista de Barrichello, que culminou no choro dele e na 16ª posição de largada, só fez piorar o sábado cinzento dos torcedores. Não era essa minha situação, no entanto. Estava muito impressionado com tudo aquilo para me deixar levar por pessimismo. A frustração, no entanto, era não poder assistir ao vivo à corrida, que teria Damon Hill na pole position.
Foi naquele sábado em que parte do Esportividade surgiu – sem eu ter me dado conta disso até o momento em que comecei a escrever este parágrafo. A revista “Pole Position”, distribuída gratuitamente nos portões do autódromo, ajudou-me a entender um pouco da Fórmula 1 e de Interlagos. Nela, sentado na arquibancada, pude ler um resumo da carreira de cada piloto e, por meio dela, tentava compreender as curvas do circuito. Era um guia esportivo. Fiz questão de guardá-lo.
Já sem a possibilidade de conseguir credencial por intermédio do meu tio, precisei esperar até 1997 para voltar ao GP do Brasil de Fórmula 1. Tamanha era minha empolgação que convenci minhas primas e o pai delas, outro tio meu, a irem conosco para Interlagos. Para comprarmos ingressos quisemos contribuir de alguma forma e economizamos dinheiro de recreio e mesada. Mas essa já é uma outra história….
O dia 25 de março de 1995 poderia ser lembrado como um sábado triste, mas se tornou especial. Vinte anos depois, muita coisa mudou – não existem mais as fitas de vídeo da Basf anunciadas na “Pole Position”, por exemplo –, mas a paixão pelo esporte é a mesma.
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