Estádio do Morumbi é ‘militarizado’: ‘é corrida de obstáculos, meu filho…’
Há 56 anos ir ao estádio do Morumbi como espectador faz parte da rotina de muita gente. O Cícero Pompeu de Toledo, casa do São Paulo Futebol Clube, sedia principalmente partidas de futebol e shows internacionais, aos quais o público simplesmente assiste. Na manhã do dia 20 de novembro de 2016, no entanto, houve a inversão total disso, já que o que acontecia no gramado não importava, até porque nada ocorria lá naquele período, e quem costumava ser o público passou a ser o protagonista do espetáculo. A primeira edição da Iron Race Stadium, que foi realizada em parceria com o 2º Batalhão de Polícia de Choque, alterou totalmente o “centro de gravidade” do local, uma vez que a competição era realizada nas regiões periféricas – e não no centro do estádio –, e não foi somente para os “superatletas”, pois existiam obstáculos dos mais diversos níveis de dificuldade.
Já no primeiro obstáculo ficou clara a proposta da Iron Race Stadium: a subida de escadaria levou os atletas aos corredores do estádio, normalmente ocupados por torcedores antes ou depois dos jogos. Conhecer as “entranhas” do Morumbi seria possível a partir daquele momento. Em alguns momentos, sem vista direta para o campo, os atletas até se esqueciam de onde estavam, como quando corriam pela área mais “nobre” do estádio, aquela dá acesso aos camarotes do anel térreo.
Sem lama e com pouco mais de 4 km, a Iron Race Stadium foi bastante diferente das provas anteriores, inclusive da que aconteceu no autódromo de Interlagos em julho de 2015. Foi uma corrida acessível a pessoas que treinam regularmente, mas não são praticantes assíduas de CrossFit ou treinamentos funcionais. Não era necessário conseguir transpor todos os obstáculos – e o regulamento previa isso. Quem não foi bem-sucedido na subida de corda, por exemplo, pagou uma punição por isso: 15 ou 20 burpees (que começam com posição de flexão de braço, mas terminam com a pessoa levantada após um movimento rápido dos pés).
Fazer burpees ou flexões de braço também é cansativo. Às vezes cansa até menos conseguir completar um obstáculo… E não era uma vergonha (longe disso), então, não conseguir transpor algum desafio. Quem não participou da prova por não se considerar um “superatleta” perdeu uma das corridas mais diferentes já realizadas em São Paulo.
O obstáculo mais criativo e surpreendente foi justamente um muito conhecido pelos torcedores: as cadeiras do Morumbi. Era necessário apoiar as mãos nos encostos de braço sem se sentar nos assentos, o que exige muito dos braços e dos músculos posteriores da coxa. Os atletas tinham de passar por 96 cadeiras nesse “senta e levanta”.
Foram três fases da prova: corredores/rampas de acesso, arquibancadas e pista de atletismo. Nesta não bastava correr: mais obstáculos haviam sido instalados lá. Antes de receberem a medalha da Iron Race Stadium, os atletas voltaram ao local de largada: a zona mista, onde os jogadores dão entrevistas aos repórteres. A “arena do evento” foi montada diante do portão principal do Morumbi, em frente à praça Roberto Gomes Pedrosa, com direito a carros e cavalos do 2º Batalhão de Polícia de Choque. No dia anterior, 19/11, houve uma versão infantil da Iron Race lá mesmo no Morumbi.
A camiseta (“camuflada”) do evento é mais para quer usada no dia a dia que em corridas, o que foi uma boa ideia dos organizadores para sair do lugar-comum. Uma sequência de saltos teria sido interessante nos anéis superiores e é uma sugestão do Esportividade para as próximas edições da prova.
Se estivesse lá no domingo, o ex-treinador Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro com o tricolor, teria dito: “Aqui é corrida de obstáculos, meu filho”.
No interior foi assim:
Corrida de obstáculos noturna mostra que camaradagem ainda tem espaço
Parabéns, Andrei.
Texto ótimo. Fotos ótimas!!!