Esporte é um dos carros-chefe do Ibirapuera, mas nem sempre foi assim
O Ibirapuera era sinônimo de cultura e negócios naquele dia 21 de agosto de 1954, um sábado frio em São Paulo. O parque recebia pela primeira vez um grande evento, a Exposição Comercial e Industrial do IV Centenário, com a participação de indústrias paulistas, Estados brasileiros, governo federal e 31 países – os estrangeiros prestavam esclarecimentos sobre produtos industriais e artísticos em estandes, que estavam devidamente decorados conforme a nação em questão, e “sintetizavam sua vida, sua cultura e seu trabalho”.
Projetado por uma equipe liderada por Oscar Niemeyer, com Hélio Uchôa Cavalcanti, Zenon Lotufo e Eduardo Kneese de Mello e com a colaboração de Gauss Estelita e Carlos Lemos, o local já era belíssimo.
Em um primeiro momento, o Ibirapuera era um enorme pavilhão de exposições e espetáculos, não só musicais. Integravam o programa dos dois primeiros dias do evento “Festa do Fogo e da Luz”, “revoada de milhares de pombos”, “show dos alucinados Aqualoucos”, além de um festival folclórico, por exemplo. Funcionavam ainda uma exposição sobre a História de São Paulo, outra com obras de cera e um parque de diversões.
Hoje em dia, não há como não associar o Ibirapuera ao esporte. No entanto, naquele agosto de 1954, não era bem assim. Um grande marco da virada foi a inauguração de um ginásio poliesportivo na região do parque em 25 de janeiro de 1957. O jornal Folha da Manhã daquele dia tratava da estreia assim: “Será finalmente batizado para gáudio não só dos esportistas de São Paulo, mas de todo o Brasil, que clamavam há tantos anos pela construção nesta capital, sem dúvida a ‘capital esportiva’ do país, de um recinto coberto dotado das condições necessárias a grandes empreendimentos”. O velódromo, local que posteriormente seria para o atletismo, já existia ali ao lado oficialmente desde 6 de novembro de 1954, mas foi o ginásio a grande obra.
O ginásio do Ibirapuera tornou-se o principal do Estado de São Paulo. O responsável pelo projeto foi Ícaro de Castro Mello, o mesmo que assumiria o do primeiro estádio Mané Garrincha, em Brasília, no começo dos anos 1970. Ícaro, que, além de arquiteto, era atleta, dá nome ao estádio do Ibirapuera, outro marco do esporte paulista.
Cultura, esporte e lazer passaram a ser os pilares do Ibirapuera. Corredores, skatistas, patinadores, ciclistas e basqueteiros, por exemplo, estão diariamente no parque. Pelo Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, em que está o ginásio do Ibirapuera, passam esportistas de muitas outras modalidades.
Sem o Ibirapuera, São Paulo seria uma cidade ainda mais cinza, menos artística e menos esportiva. Seria pior, portanto. Ainda bem que ele existe.