Corrida é socialização e formação de identidade; empresas buscam mais apoio
Durante a segunda edição do Summit Abraceo, evento organizado pela Associação Brasileira dos Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor, realizado nos dias 30 e 31 de janeiro de 2024, em parceria com a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), em Bragança Paulista, Alessio Punzi, chefe de Corrida de Rua e Participação de Massa da World Athletics, revelou algo que quem pratica corrida de rua já percebeu há tempos: que as principais razões pelas quais se participa de eventos são socialização e formação de identidade. O estudo mencionado pelo italiano, datado de novembro de 2023 e que ainda será complementado, afirma que a motivação competitiva não é a mais forte.
Isso quer dizer que, embora haja a participação de atletas de elite nos eventos de corrida de rua, não é estritamente esportivo o maior ganho da sociedade, uma vez que eles podem contribuir para todas as dimensões de bem-estar – física, intelectual, emocional, social, espiritual, vocacional, financeira e ambiental. A atual missão das empresas organizadoras no Brasil é, principalmente, que o poder público tome conhecimento desses benefícios, ampliando o apoio ao setor – apoio que não é necessariamente financeiro.
De acordo com Punzi, com o resultado da pesquisa (ainda sem data de divulgação final), a entidade pretende chancelar a importância da corrida de rua para a população mundial. A fala do membro da World Athletics não poderia ser mais propícia, uma vez que foi dita em um encontro de organizadores de corridas de rua do Brasil, o qual marcou o estabelecimento de uma parceria inédita com a CBAt, que levou para o evento presidentes de federações de atletismo do país todo.
“É o festival das diferenças”, é o que diz Punzi ao enfatizar que a corrida de rua é a atividade individual mais coletiva que existe, afinal todos estão ali praticando uma mesma modalidade, porém com objetivos distintos, seja bater um RP, seja apenas concluir o percurso, mesmo que caminhando. Segundo o Ticket Sports, principal plataforma de venda de inscrições, existiu em 2023 um equilíbrio entre a participação masculina e a feminina, 53% a 47%, com média de idade de 39 anos.
Com o lema “derrubar muros e construir pontes”, o 2º Summit Abraceo abordou a importância da integração entre as provas de corrida pedestre com as federações de atletismo do país a fim de buscar cada vez mais excelência no esporte. O evento contou com a participação de membros do governo, como o deputado federal Julio Cesar Ribeiro, que defendeu a derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao artigo da Lei Geral do Esporte que tornaria obrigatória a autorização de federação para a realização de corridas (o Código de Trânsito Brasileiro, porém, ainda trata disso).
Mariana Dantas, secretária de Esporte e Lazer de Sergipe – participante de uma das mesas de debate que abordava as políticas públicas para o crescimento da corrida de rua na América Latina –, levou para a discussão as inconveniências que uma prova causa para a cidade, como o desvio de linhas de ônibus e as alterações de rotas de trânsito, porém como um detalhe infinitamente menor do que os benefícios, não apenas para a saúde como também para a movimentação do turismo, o chamado turismo de corrida, que o evento proporciona.
Só os eventos de triatlo Ironman Brasil e Ironman 70.3 em Florianópolis movimentaram cerca R$ 72 milhões na capital catarinense com hotéis, passeios e alimentação, por exemplo, em 2023. Quem afirma isso é o CEO do Unlimited Sports, empresa organizadora do circuito no país, Carlos Galvão.
Em pesquisa contratada pela Dream Factory (com o apoio da Apresenta), o Ifec-RJ (Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises) calculou que o maior festival de corrida de rua da América Latina, a Maratona do Rio, gerou um impacto econômico de R$ 137,2 milhões ao estado do Rio de Janeiro em 2023.
Devido à importância socioeconômica da corrida de rua, o espanhol Marc Roig, que é selecionador de atletas de elite internacional da Maratona de Valência, explicou no Summit que o grande evento é uma parceria entre o clube s.d. Correcaminos e a administração municipal valenciana. Existe, então, participação direta do poder público, que entende os benefícios da corrida para os cidadãos.
Já os organizadores de corridas brasileiros, em sua maioria, dizem não ter o mesmo apoio vindo dos governos – a Maratona do Rio, por exemplo, é uma exceção –, mas os primeiros passos dessa aproximação têm sido dados no Brasil, o que foi mostrado pelo Summit Abraceo/CBAt de 2024 e enfatizado pelo presidente da Abraceo, Guilherme Celso, em seu discurso.