Corrida do Peru, ‘lado B’ da São Silvestre, faz até cachorros acordarem
No mesmo momento em que milhares de atletas (30 mil inscritos) se concentravam na avenida Paulista, em São Paulo, para a 91ª edição da São Silvestre, a cerca de 22 km de lá menos de 200 corredores disputavam outra corrida de rua em Carapicuíba e também despediam-se do ano de 2015. Por diversos motivos, a Corrida do Peru é o “lado B” do evento da Cásper Líbero. Em vez de Paulista, aldeia jesuítica; no lugar da Brigadeiro Luís Antônio, a igualmente difícil subida de rua José Félix de Oliveira/estrada da Aldeinha; diferentemente de toda a seriedade do pelotão de elite, toda a descontração dos participantes ao verem quem antes da largada já “liderava”: cachorros.
Inspirada no Réveillon, a Corrida do Peru tem esse nome por causa do prêmio e da época do ano. Surgiu, como conta o regulamento do evento, a partir da brincadeira de amigos que soltavam um peru nas ruas da Aldeia Jesuítica de Carapicuíba para comemorar a passagem de ano. O primeiro a pegar a ave vencia e a levava como prêmio. Com o passar do tempo, a corrida evoluiu com o apoio da Prefeitura de Carapicuíba e dos atletas, mas a tradição foi mantida, premiando-se os primeiros colocados da prova com a entrega de peru congelado. Segundo e terceiro colocados de cada categoria também recebem como premiação um Chester e um frango congelados, respectivamente.
Ao contrário da corrida “lado A”, a São Silvestre, cujo percurso possui 15 km, os atletas percorreram 7 km (6,68 km, segundo marcação do Esportividade) na Corrida do Peru. E os participantes desta não pagaram R$ 145, mas doaram 2 kg de alimentos não perecíveis.
Ficou evidente a diferença entre “lado A” e “lado B” logo no primeiro cenário da Corrida do Peru, a aldeia jesuítica. Apesar de Carapicuíba estar na região metropolitana de São Paulo, o clima de interior era total. Cachorros dormiam confortavelmente sobre o tapete de cronometragem minutos antes da largada. Para que a prova pudesse ser iniciada, um deles precisou removido de lá com uma técnica “supermoderna”: um membro da organização o puxou com a ajuda de um copo de plástico, que era mordido pelo cão.
Logo nos primeiros metros, já ficou claro que a 33ª Corrida do Peru não seria brincadeira: uma forte descida indicava que haveria em algum momento uma complicada subida, pois largada e chegada aconteceriam no mesmo lugar. E, como não existiam sequer 300 competidores, problemas para a realização de ultrapassagens seriam inexistentes. Os obstáculos eram os da própria cidade: vias esburacadas, mato pegando fogo – e, consequentemente, um cheiro de queimado – ali perto, cachorros cruzando a pista – cavalos eram vistos em um dos trechos altos.
Com 1,32 km, a subida de José Félix de Oliveira/estrada da Aldeinha é mais curta que a da Brigadeiro Luís Antônio, mas o atleta na Corrida do Peru sobe tanto quanto na São Silvestre: enquanto na prova de São Paulo os atletas vão de 769 metros a 838 metros de altitude (segundo manual do evento), na de Carapicuíba eles vão de 754 a 824 (de acordo com medições obtidas por meio do aplicativo RunKeeper).
Ao fim da Peru, os atletas receberam uma medalha minúscula, dessas de “honra ao mérito” de jogos escolares. Adesivo colado mencionava o nome do evento. E os três primeiros de cada categoria foram premiados com as aves, que lhes foram dadas dentro de sacolas térmicas, e a cerimônia de premiação em si foi confusa, mas nada disso tirou o charme da prova. Paralelamente aconteceu a Corrida do Peruzinho, para crianças e adolescentes, sem que houvesse divulgação oficial da classificação do evento infantojuvenil (“o importante é a participação”).
Corrida do Peru e São Silvestre são completamente diferentes, mas cada uma possui seu charme especial. Em Carapicuíba, o atleta corre no último dia do ano como se estivesse em uma pequena cidade do interior; em São Paulo, o corredor sente-se realmente na metrópole em meio à multidão. No entanto, ambos os casos são ritos de passagem de um ano para outro. Vale a pena experimentar os dois eventos pelo menos uma vez na vida.
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