‘Combustível’ da torcida osasquense é mais tradicional que final contra o Rio
Só há algo mais clássico que Rio x Osasco na final da Superliga feminina de vôlei: o cachorro-quente da dona Maria Leite vendido diante do José Liberatti, em Osasco. Muito antes de o confronto começar a se repetir – na temporada 2004/2005 – a vendedora já trabalhava na porta do ginásio osasquense, que naquela época era a casa da equipe patrocinada pelo Bradesco. O tempo passou, a instituição financeira encerrou – em 2009 – as atividades da equipe adulta feminina e a Nestlé chegou. Mudaram-se as cores, os patrocinadores e as marcas, mas a dona Maria ficou. E, aos 73 anos, lucrou na noite de sexta-feira passada, 10 de abril, quando a torcida lotou o José Liberatti e viu a classificação do time para mais uma decisão contra o Rexona-Ades.
O trabalho de Maria só foi encerrado depois da meia-noite, pois o jogo começou às 22h10. Somente será retomado no segundo semestre, pois a decisão será disputada no Rio de Janeiro em 26 de abril de 2015. “Quando a temporada acaba a gente fica triste, mas o que a gente vai fazer? Temos de trabalhar todos os dias ao lado do hospital regional [no mesmo bairro]”, disse ela, que lá vende cachorros-quentes das 9h às 19h.
Na sexta-feira, dia de clássico paulista entre Molico e Sesi-SP, a comerciante chegou à porta do Liberatti às 15h. E disse que já havia fila desde as 10h diante do ginásio. “Foi maravilhoso [o dia], ótimo. Só tenho de agradecer a Deus. E meu cachorro-quente é bom. Todo mundo gosta dele”, afirmou.
Dona Maria, que recebe o auxílio do irmão quando ele pode, vende um cachorro-quente completo por R$ 4: “Deus é muito bom para nós. Quem não ganha dinheiro é quem não quer. Existe lugar que não faz a metade do que faço. Você não precisa ser ambicioso. Dando para sobreviver, pagar minhas contas, para mim está ótimo. Não necessito de mais nada”.
Elogiou “o pessoal do ginásio” – “pessoas muito boas” –, mas avisou: “Mas você tem de trabalhar direito. Não pode entrar latinha e não as vendemos. Todo mundo tem suas regras”.
Depois de uma sexta-feira de vitória do Molico/Osasco por 3 sets a 0 sobre o Sesi-SP, dona Maria descansaria no sábado e trabalharia perto do hospital no domingo. “Precisamos [no sábado] colocar as coisas em dia, lavar os carrinhos, limpar tudo”, contou.
Pela décima vez em 11 temporadas, a final da Superliga feminina será entre Rio e Osasco. A dona Maria também faz parte disso. O cachorro-quente dela é um “porto seguro” desde 1996 e o “combustível” de quem vai o ginásio do Osasco torcer pelo time da casa. A tradição está mantida.