‘Chaves’ emociona mais a torcida que jogo dos piores da Série B no Canindé
Os dois piores times da Série B do Campeonato Brasileiro-2014, Portuguesa e Vila Nova, se enfrentaram no Canindé, em São Paulo, e se despediram da segunda divisão em uma estranha noite de sexta-feira, dia 28 de novembro. Diversas foram as motivações dos poucos torcedores que foram ao estádio, mas se pode dizer que ninguém estava lá com esperanças de ver um grande desempenho da Lusa. A impressão que se tinha é que havia menos que os 307 pagantes divulgados. Para deixar a noite ainda mais melancólica, chegou a notícia da morte do ator Roberto Bolaños, o “Chaves”, a qual provocou o momento mais espontâneo do evento.
O assessor comercial Gilberto Pacheco esteve em quase todos os jogos da Portuguesa no Canindé, mas chegou a uma fase em que o extracampo lhe é mais importante. “O que me motivou a vir a esse jogo foram os amigos – nos encontramos aqui no Canindé. É uma vergonha o que estamos passando. Infelizmente chegamos ao fundo do poço”, disse.
Crianças foram a maior motivação do coordenador de vendas Leandro Duarte de Souza. “O sentimento é de tristeza, mas ao mesmo tempo nós temos um pouco de esperança, pois pior que está é difícil ficar, na verdade. Viemos mais para trazermos nossos filhos; existem colegas do meu filho que nunca vieram ao estádio, e é um jogo bem atípico e tranquilo – eles vão adorar [o evento] independentemente de os times serem os dois últimos do campeonato”.
Os estudantes da USP Douglas Vieira e Guilherme Sousa são apreciadores do futebol em si. “O que nos motivou a vir até aqui hoje foi o fato de que admiramos esses jogos. Sou de Guarulhos, e já fui a partidas do Flamengo-SP. Um da Série A3 em que estive contou com só 30 pagantes”, afirmou Douglas. Guilherme completou: “Somos muito fãs de ‘futebol alternativo’. Fomos, por exemplo à final da Segunda Divisão do Paulista [Nacional x Atibaia]. Sou de Campinas, e lá gosto de ir aos jogos do Red Bull, por exemplo. Adoro esses jogos aos quais não vai quase ninguém – o meu recorde é Red Bull x Batatais, que teve 48 pagantes”.
O clima estava tão estranho no Canindé que a música “Dias Melhores”, do Jota Quest, foi tocada no intervalo e ao fim da partida. “Vivemos esperando o dia em que seremos melhores”, diz a canção. Durante o jogo, a pequena torcida puxou um “Olê, olê, olê, Chaves, Chaves” para homenagear Bolaños, certamente mais querido que qualquer jogador em campo naquela noite.
A Portuguesa mais uma vez foi derrotada em casa – 3 a 2. O roteiro do revés foi aquele que o torcedor presenciou em outras situações: a Lusa saiu na frente, mas tomou uma virada ainda no primeiro tempo; chegou a obter o empate no segundo, mas um gol do Vila Nova três minutos depois tirou qualquer esperança de ao menos uma vitória de despedida.
Números mostram como a Portuguesa foi mal na Série B de 2014. Última colocada, só obteve quatro vitórias em 38 jogos, uma delas justamente contra o Vila Nova, no Serra Dourada, em 26 de agosto. Só foi voltar a marcar três pontos em 8 de novembro, quando pegou o Luverdense no Canindé.
Conquistou somente 25 pontos, o que significa um aproveitamento de apenas 21,92% dos disputados. Só não teve saldo de gols pior que o do Vila Nova, penúltimo colocado: -35 a -30. A equipe de Goiás obteve dez vitórias, mas foi derrotada 26 vezes, cinco a mais que a Lusa.
A grande decadência da Lusa começou quando escalou irregularmente Héverton no Brasileiro de 2014, fui punida pelo STJD, perdeu quatro pontos e caiu para uma posição que significava rebaixamento à Série B.
Há um ano, em 1º de dezembro de 2013, a Portuguesa derrotou fora de casa a Ponte Preta por 2 a 0, resultado que a punha momentaneamente em 13º lugar e foi muito comemorado por seus torcedores, pois a deixava bem perto de permanecer na Série A, o que era um grande feito para o clube paulistano.