São Paulo - região metropolitana
Corrida de rua 05/10/2020

Cabines de desinfecção, sem aval da Anvisa, geram desconfiança em corridas

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade

Entrada em túnel de desinfecção (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/EBC)

Observação (feita às 13h11 de 6 de outubro): o Sistema CFQ/CRQs e a Associação Brasileira de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (a Abipla) são contra as cabines de desinfecção e alertam para os perigos, “uma vez que nenhum desinfetante deve ser utilizado para a descontaminação de pessoas”. O governo federal dos Estados Unidos (clique aqui) também não recomenda o uso desses túneis.

Com a retomada gradual das corridas de rua no Brasil, é possível que em algumas delas sejam adotados túneis ou cabines de desinfecção por empresas organizadoras, mas essa adoção não tem o respaldo da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

A nota técnica número 51/2020, publicada em maio, diz que “não foram encontradas evidências científicas, até o momento, de que o uso dessas estruturas para desinfecção seja eficaz no combate ao Sars-CoV-2 [novo coronavírus], além de ser uma prática que pode produzir importantes efeitos adversos à saúde. Tecnicamente, a duração do procedimento, entre 20 e 30 segundos, não seria suficiente para garantir o processo de desinfecção. Vale reforçar que esse procedimento não inativa o vírus dentro do corpo humano”.

Ainda segundo a agência, “de forma geral, os produtos químicos supostamente utilizados nessas estruturas já foram aprovados pela Anvisa e são eficazes para desinfecção exclusiva de superfícies, com exceção do ozônio”.

A exposição leve ou moderada ao ozônio, por exemplo, “produz sintomas do trato respiratório superior e irritação ocular (por exemplo, lacrimação, queimação dos olhos e garganta, tosse improdutiva, dor de cabeça, dor subesternal, irritação brônquica, gosto e cheiro acre)”.

A mesma nota deixa bastante claro que “não existe, atualmente, produto aprovado pela Anvisa para desinfecção de pessoas”.

A OMS, Organização Mundial da Saúde, segue a mesma linha da Anvisa: “Essa prática não é recomendada sob quaisquer circunstâncias. Pode ser fisicamente ou psicologicamente danosa e não reduziria a capacidade de uma pessoa infectada espalhar o vírus por meio de gotículas ou contato. Mesmo se alguém com covid-19 for a um túnel ou cabine de desinfecção, assim que essa pessoa começar a falar, tossir ou espirrar, ainda poderá espalhar o vírus”.

“Os efeitos tóxicos da pulverização com substâncias químicas como cloro em indivíduos pode levar a irritações de pele e olhos, broncoespasmo devido à inalação e, potencialmente, a efeitos gastrointestinais como náusea e vômito”, afirmou a OMS.

A retomada dos eventos na cidade de São Paulo, por exemplo, não prevê o uso de tais estruturas. O protocolo apresentado pela Federação Paulista de Atletismo também não as menciona.

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