Atletas ‘imitam’ Ayrton Senna e correm em Interlagos na ‘contramão’
Não é exagero dizer que quase 1.300 pessoas tiveram um sábado de Ayrton Senna no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Mas não pelo motivo que seria mais óbvio: embora tenham corrido, elas não pilotaram. Assim como o tricampeão de Fórmula 1 gostava de fazer nas férias, atletas experimentaram o circuito paulistano no sentido horário, ou seja, na contramão do habitual.
Os participantes dos 4,309 km (uma volta) e dos 8,618 km (duas voltas) da Run Stock Car observaram Interlagos como Senna o via quando estava de folga na capital paulista, cidade onde nasceu e cresceu.
“Era quase um lugar-comum, um ritual dele”, disse Edgard Mello Filho, ex-administrador de Interlagos, referindo-se ao gosto especial de Senna. “As curvas passam um sabor diferente. Imagine aquela Junção ao contrário, em descida em vez de em subida.” E Edgard contou que, quando podia, Senna visitava o autódromo para saber como estava o circuito. Nessas ocasiões, o piloto até se arriscava a dirigir um “Opala velho” cujo apelido era Onça: “Muito podre, mas todo enjoado, de pneus novos”, nas palavras do ex-administrador. Mas às vezes Senna guiava as belas máquinas com as quais ia ao local, “e a voltinha dele na contramão era imperdível”.
Edgard recordou-se de uma vez especial: no fim de 1993 ou no começo de 1994, Ayrton emendou uma volta ao contrário na outra e não queria saber de parar. “Ele começou a descascar, descascar, e decidi provocá-lo um pouco. Era um daqueles dias em que era para ser assim. Ele resolveu acelerar e eu, provocar. Então, aticei um pouco, simulava uma narração em que dizia que ele estava sendo perseguido por aquele piloto francês narigudo [Prost] e que o inglês [Mansell] também vinha perto, queria passá-lo por fora, e ele dizia: ‘Não vai passar! Não, por fora não passa’. E começou a descascar com aquela encrenca lá, uma perua Audi – o carro era um demônio. Foi memorável”, contou o jornalista.
Outro carro usado por Senna nessas brincadeiras era um Fusca “cuja porta nunca fechava”, de acordo com Edgard. Em voltas normais, segundo ele, o tricampeão costumava estacionar para vistoriar determinados trechos da pista e dar sugestões de como melhorá-los. “Enfim, após o término, virava e dava cinco ou seis voltas na contramão”, relatou o ex-administrador.
Como é correr em Interlagos
A largada da Run Stock Car atrasou: estava marcada para as 19h, mas foi autorizada às 19h20 de sábado. Por causa disso, uma parte considerável dos atletas dos “8k” chegou ao fim das duas voltas quando já era noite – e não há luzes artificiais para iluminar a pista.
Não foi a única dificuldade do evento: a retirada do kit tinha inicialmente de ser feita na loja Decathlon da rodovia Raposo Tavares, local considerado “fora de mão” por muitos participantes. No primeiro dia de entrega, quinta-feira, houve gente que saiu de lá sem número de peito e chip. A organização permitiu, então, que pudessem ser retirados no sábado, no próprio autódromo.
Mas a corrida em si foi o que se esperava dela: um espetáculo, já que se trata de um local “sagrado” para o esporte brasileiro. A chuva já havia parado, mas os atletas puderam avistar um arco-íris durante a primeira volta, o que tornou a prova mais especial ainda.
Correr no sentido horário de Interlagos significa que a Subida dos Boxes torna-se uma descida, e o primeiro quilômetro é um trecho muito veloz. Mas, no Mergulho, as dificuldades começam. Os atletas têm de procurar o melhor traçado, assim como no automobilismo, para percorrerem a menor distância possível – sem cortar caminho.
A Descida do Lago é, na verdade, uma subida, e poupar-se na Reta Oposta é importante para que se chegue ao S do Senna em condições de subi-lo sem muita perda de velocidade. No sentido horário, a curva que leva o sobrenome do tricampeão é justamente a última. E, especialmente na segunda volta, na qual o atleta já está mais cansado, pode ser considerada o maior desafio do percurso.
Antes da corrida de rua, os atletas que tinham optado pelo pacote que incluía ingressos puderam assistir aos treinos das categorias automobilísticas, como a Stock Car, cuja decisão do campeonato aconteceria no dia seguinte (com título de Marcos Gomes), e a uma prova da Copa Petrobras de Marcas, cujo segundo colocado foi Rubens Barrichello (com vitória de Fábio Carbone).
Pontos positivos:
Circuito (correr em Interlagos sempre é diferente)
Kit pós prova (Frutas e barra)
Camiseta
Pontos Negativos
Retirada do Kit na divisa de São Paulo e Osasco
Medalha
Pontualidade da largada
Distribuição do pódio e tenda de guarda-volumes, longe da largada e chegada…