Arquiteto do Itaquerão usa bom humor ao falar sobre intolerância ao verde
Parte da cobertura da Arena Corinthians não estará completa na Copa do Mundo pelo fato de que os vidros, expostos ao sol, ficariam esverdeados. Os novos encomendados, que não produzem tal efeito, não chegarão ao Brasil a tempo de serem instalados antes do Mundial. A faixa de vidro tem como função proteger justamente os assentos mais próximos do gramado nos setores leste e oeste, um lugar nobre, nas laterais do campo. Durante palestra no Redesign, em São Paulo, o principal arquiteto do estádio corintiano, Aníbal Coutinho, fez uma brincadeira a respeito dos motivos pelos quais os corintianos rejeitaram um vidro que ganha tom de verde: “O Palmeiras deve ter feito muito mal para o Corinthians na infância”.
Coutinho disse já estarem instalados os vidros “antiesverdeamento” na fachada oeste, os quais foram feitos na França e serigrafados na Itália: “A AGC nos fornece um float extraclaro que não esverdeia, porque o Corinthians tem um grande problema com coisas verdes. Ninguém podia entrar na obra com peça de roupa verde”.
A esquadria dos vidros, os quais têm 90% de opacidade e só 10% de transparência, foi desenvolvida pelos projetistas da Ferrari, “porque precisávamos de alguém que entendesse de vento, velocidade e leveza”.
Mas o verde, o amarelo e o azul estarão presentes nas arquibancadas da Arena Corinthians em 12 de junho, dia de Brasil x Croácia, o jogo de abertura da Copa do Mundo. Cerca de 20 mil dessas pessoas estarão acomodadas em cadeiras em dois setores temporários, o norte e o sul superiores. De acordo com o Coutinho, tais lugares deverão ser removidos até o fim do ano. “Dão uma receita líquida muito pequena. Não compensam, porque o que colocamos no local dá uma receita muito maior”, afirmou. Quando essas arquibancadas saírem de lá, haverá duas áreas abertas com lojas e banheiros.
Nessa fase de transição da Copa para a “vida normal” do estádio, segundo o arquiteto, a estimativa é que o estádio funcione com capacidade a 60%.
Conceito geral por trás da Arena Corinthians
Coutinho explicou que o projeto do Itaquerão surgiu quando o Corinthians se viu sem conseguir fazer algum acordo com a Prefeitura de São Paulo sobre o Pacaembu. O clube, então, passou a planejar a construção de um estádio no terreno concedido a ele pelo governo municipal em 1988, local o qual pode usar – de acordo com a lei número 10.622, de 9 de setembro de 1988, drecretada por Jânio Quadros – até 2078.
“Procuramos fazer um estádio o mais compacto possível”, disse o arquiteto, segundo o qual tentou-se projetá-lo de modo que o “efeito jogo em casa fosse muito predominante”. Quando saírem as arquibancadas temporárias, o Itaquerão passará a ter 48 mil lugares.
Diferentemente do Allianz Parque, o estádio do Palmeiras em construção, no corintiano não existem planos de recepção de eventos não futebolísticos no gramado. “Falou-se muito em estádio multiúso, mas nossas pesquisas não apontam multiúso no campo, porque é algo que estraga muito o gramado. Fizemos, então, um bloco de centro de convenções [no lado oeste].” Será possível haver 50 eventos simultâneos nos 50 mil m² de área de negócios. A própria sala de coletivas de imprensa pode se tornar um auditório corporativo.
“Desde o princípio o que nos moveu a fazer esse projeto foi agregar valor pelo design e pela excelência. Se o consumidor corintiano perceber que seria bem tratado, que ganharia algo a mais do que o simples valor do ingresso que ele paga, teríamos uma grande chance de esse estádio ser bem-sucedido – e muito mais bem-sucedido do que os similares”, resumiu Coutinho, de acordo com o qual os materiais são de boa qualidade e duráveis e os acabamentos são bem feitos tanto nos setores mais populares como nos mais caros.
A meta, segundo o arquiteto, é que o Itaquerão seja ao menos o melhor do mundo em três aspectos: gramado, iluminação e vestiários. Existe por baixo do gramado um moderno sistema de resfriamento, com quilômetros de tubulação, já que a grama é própria para climas mais frios. Hoje o sistema é controlado da Carolina do Sul por meio de um iPad. A iluminação, segundo Coutinho, leva uma vantagem até sobre a Allianz Arena (5 mil lux, contra 2,5 mil lux do estádio alemão). Os vestiários possuem até um campo para aquecimento de jogadores e uma arquibancada, que pode receber até 96 convidados.
Após a Copa do Mundo, para os torcedores não perderem lances das partidas, serão instaladas 3.700 telas de TV, inclusive nos banheiros. “Isso incrementa muito a circulação durante o jogo e não há perda de informações”, declarou Coutinho. A fachada do prédio leste é, na verdade, um grande telão de LED. Está instalado em uma área de 170 metros de comprimento por 20 metros de altura.
Existem camarotes com diferentes capacidades: o menor é para até 12 pessoas; a maior configuração, a “de festa”, pode receber até mil convidados.
Ficha técnica da Arena Corinthians fornecida pela Odebrecht:
Área do terreno: 198.000 m²
Área construída: 189.000 m²
Fundação profunda com estacas pré-moldadas e estacas raiz: 3.520 m²
Pilares Pré-moldados: 900 unidades
Vigas pré-moldadas: 2.500 unidades
Lajes pré-moldadas: 9.700 unidades
Degraus pré-moldados: 4.000 unidades
Estacionamento descoberto: 1.943 vagas
Estacionamento coberto: 990 vagas
Camarotes: 89 unidades
Assentos: 48.000 unidades
Sanitários: 502 unidades
Lojas de concessão: 59 unidades
Elevador: 15 unidades
Escada rolante: 10 unidades
Auditório: 1 unidade
Restaurante Sport Bar: 4 unidades
Cozinha industrial: 1 unidade
Fachada (prédio oeste) em vidro: 8.900 m²
Ar-condicionado: prédios oeste e leste