Análise: reversão do sedentarismo dos jovens do Brasil passa pelas empresas
O Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte), divulgado nesta semana, mostra um número (de 2013) alarmante: 45,9% da população brasileira é sedentária. Mais da metade das mulheres está nessa situação – 50,4% –, e 41,2% dos homens não fazem atividade física ou esporte. Outro dado também sobressai: a interrupção da prática esportiva quando se tem de 16 a 24 anos: 45% dos entrevistados que a abandonaram disseram ter parado quando se encontravam nessa faixa etária. Quase 90% dos abandonos esportivos acontece até os 34 anos.
Os principais motivos para entrevistados não praticarem esporte em 2013 foram a falta de tempo e outras prioridades (58,8%), e pessoas com idade entre 20 e 24 foram as que mais responderam assim (68,2% delas disseram isso).
“Tais circunstâncias sugerem que o abandono está relacionado ao período em que o indivíduo, de ambos os gêneros, sai da escola e vai para o mundo do trabalho”, diz análise do Ministério do Esporte. “A falta de tempo por motivos de estudo, trabalho ou família foi apontada por 69,8% dos brasileiros como a razão pela qual abandonaram a prática de esportes ou de atividades físicas.”
Questionadas se têm consciência dos riscos da vida sedentária, 35,7% das pessoas que não praticam atividades físicas responderam que “sim, mas não demonstram esforço para a prática”. E a questão do tempo foi a resposta de 27,2%. Condições financeiras foram consideradas primordiais para apenas 5,5%.
Futebol foi apontado por 49,8% dos entrevistados como a modalidade praticada antes da interrupção. Vôlei (21,4%) e academia (4,5%) aparecem em seguida. Entre as mulheres, o vôlei, com 38,1%, era a “bola da vez” antes da parada; o handebol era praticado por 5,5% delas.
Ao mesmo tempo, quem tem de 20 a 24 anos está mais propenso a ir a eventos esportivos pagos – 19,1%, o que está acima da média, que é de 14,3%. Quem mais escuta transmissões de jogos e assiste a programas esportivos, porém, são os mais velhos, de 65 a 74 anos, com 48,3%, enquanto a média é de 31,1%.
Apesar da alta taxa de abandono, o Diesporte aponta que a população mais jovem é a que mais pratica atividade física. Entre 15 e 19 anos os declarados sedentários são 32,7%; já na faixa 20 a 24 anos o número sobe para 38,1%. A partir daí, a taxa de sedentarismo ultrapassa os 40% e ela vai crescendo continuamente até atingir 64,4% dos brasileiros com idade entre 65 e 74 anos.
Também ficou claro que, quanto mais velha a pessoa, mais a atividade física dela passa a ser a caminhada, que corresponde a 78,2% da praticada por não sedentários com idade entre 65 e 74. Está em primeiro lugar na classificação geral – com 56,8% –, bastante à frente de andar de bicicleta, vice-líder, com 17,5%. Isso afeta também o lado financeiro: 73,6% dizem praticar atividade física gratuitamente.
A classificação do que é atividade física e do que é esporte foi feita pelos próprios entrevistados. A metodologia da pesquisa permitiu que declarassem livremente a natureza da prática, se esporte ou atividade física. Dessa forma, 25% dos entrevistados disseram praticar esporte em 2013 e 75% afirmaram que não. Já 46,2% declararam fazer atividade física; 53,8%, não fazer.
Apesar de não ser uma modalidade competitiva, a caminhada é o “segundo esporte” do brasileiro. Enquanto o futebol aparece com 51,60%, ela está com 10,20%, superando o vôlei, que foi mencionado por 9,90%, e “academia”, por 6,20%. Já entre os que dizem que praticam esporte, 32% o fazem em instalações esportivas pagas, ou seja, mais que em gratuitas (29,5%).
Solteiros (38,20%) praticaram mais esporte nas horas vagas de 2013 que casados (22,80%). Brancos e amarelos, com 27,30% e 24,60%, foram superados por pardos e negros, 29,20% para ambos, nesse quesito.
Dos entrevistados cuja família tem renda de até R$ 1.355,99, quase 50% nunca fazem atividade física; 28,3% as praticam regularmente. Os mais saudáveis são pessoas com renda familiar de dez a 20 salários mínimos – 52,6% têm atividades regulares. Um fenômeno interessante acontece com aqueles das de mais de 20 salários mínimos: são “oito ou oitenta”: 41,2% dizem que nunca praticam; 43,7% afirmam que sempre fazem.
Quanto menor a escolaridade, menos frequente é a prática, mas existe exceção: 77,2% dos analfabetos disseram nunca praticar; 45,3% das pessoas com nível superior afirmam se exercitar regularmente – mas esse número cai para 38,5% quando são consideradas as pós-graduadas.
Desempregados tendem a ser mais sedentários que empregados: 46,9% a 40,7%, e 52,1% e 60,2% das donas de casa e dos aposentados estão nessa condição, respectivamente.
De acordo com uma pesquisa divulgada em março de 2012 pelo Ibope e encomendada por Instituto Ayrton Senna, Instituto Votorantim e Atletas pela Cidadania, só 70% dos colégios públicos têm espaços que são destinados à prática de educação física em suas instalações. Quase 80% dos espaços para aulas da disciplina são quadras poliesportivas.
Análise do Esportividade
Estudantes são praticantes de atividades físicas por natureza (apenas 23,6% deles são sedentários), mas o período de transição de estudos para mercado de trabalho leva parte significativa das pessoas antes ativas a abandoná-las. Antes desse relatório não se tinha uma noção tão clara disso.
As próprias empresas brasileiras deveriam agir mais para evitar a perda da qualidade de vida de seus jovens funcionários, criando grupos de corrida e elaborando ações de bem-estar, por exemplo.
A pesquisa também mostrou que 48% dos entrevistados deram início à prática esportiva em escolas e universidades com orientação de professor e que 55,3% só ingressaram no esporte após os 11 anos. Se o esporte escolar fosse mais valorizado, esse cenário seria diferente.
Quanto aos mais velhos, ainda falta investimento das secretarias de esporte em melhores equipamentos para eles a fim de que eles tenham outras opções além da caminhada – mais hidroginástica gratuita, por exemplo.
Texto atualizado às 19h46 de 25 de junho de 2015.