A contraditória angústia de ver de perto Rio-16 e se sentir desatualizado
Ser um espectador dos Jogos Olímpicos Rio-2016 é uma das melhores experiências que um fã de esporte pode viver, mas, ao mesmo tempo e contraditoriamente, o torcedor sente-se mais por fora do evento que se estivesse diante da televisão em casa. A expressão em inglês “fear of missing out” traduz essa angústia da contemporaneidade. É o constante sentimento de você está perdendo algo, o que o leva a checar constantemente e-mails e redes sociais. Nos Jogos Olímpicos, o espectador tem justamente a sensação de, mesmo estando in loco em um evento do Rio-2016, estar por fora dos outros acontecimentos.
Em 14 e 15 de agosto de 2016, estive em seis sessões olímpicas no Rio de Janeiro: rodada dupla feminina de handebol na Arena do Futuro (no Parque Olímpico), duas partidas femininas de basquete na Arena da Juventude (em Deodoro), rodada dupla feminina de vôlei no Maracanãzinho, atletismo no Engenhão, jogo masculino Nigéria x Brasil de basquete na Arena Carioca 1 (Pq. Olímpico) e quartas de final masculinas do vôlei de praia (Copacabana). Apesar de ter assistido a tudo isso, senti-me mais desatualizado sobre os Jogos Olímpicos que se eu estivesse em frente à televisão.
Consegui minimizar essa sensação quando assisti à final dos 100 metros rasos – vencida por Usain Bolt – por meio de um aplicativo quando estava no Maracanãzinho e quando vi o desempenho da ginasta Flávia Saraiva na trave de equilíbrio da mesma forma, mas no BRT (o sistema de transporte funciona bem, diga-se de passagem), saindo do Parque Olímpico na segunda-feira.
Soube da conquista da medalha de ouro por Thiago Braz no salto com vara quando estava nas arquibancadas da arena de Copacabana vendo o vôlei de praia. Porém, não assisti à prova dele ao vivo. Se pudesse, estaria em dois lugares em mesmo tempo: em Copa e no Engenhão.
Colabora para essa angústia o fato de não haver uma integração entre as sessões dos Jogos Olímpicos-16. Quando se está no ginásio de vôlei, por exemplo, não se tem a impressão de se tratar de um evento poliesportivo, porque os locutores e o telão não mencionam as demais modalidades. A final dos 100 metros aconteceu durante o aquecimento das jogadoras de Brasil e Rússia no Maracanãzinho. Mas era perfeitamente possível um dos momentos mais aguardados dos Jogos ter sido transmitido no telão do ginásio. Ou ao menos o locutor ter anunciado o resultado da prova…
Quem fica o dia inteiro indo de um evento a outro depende do celular para saber dos resultados e das notícias olímpicas. A falta de integração entre as sessões faz aumentar a sensação de desatualização, a qual não existia na Copa do Mundo de futebol, por exemplo, já que no máximo havia duas partidas acontecendo simultaneamente.
Apesar do “fear of missing out”, a experiência olímpica realmente é singular. Uma das cenas mais marcantes que vivi nesses dias ocorreu na linha 1 do metrô carioca: quando os espectadores da grande final dos 100 m entraram no vagão onde eu estava (eu havia saído do Maracanãzinho; eles, lá do Engenhão), não se entendia nada das conversas. Eram tantas as línguas faladas e tantos os assuntos que o som produzido era incompreensível.
A energia positiva era a mesma, porém: de tão eufóricas que aquelas pessoas (algumas delas jamaicanas) estavam, algumas nem sequer faziam a questão de se sentar. Naquele momento, o “fear of missing out” passou a ser apenas um detalhe, já que eu estava atualizado e revigorado com o espírito olímpico.
lindo texto. simples e direto. parabéns!!!!