Prefeitura de SP tem chance ‘de ouro’ na Virada Esportiva, mas a desperdiça
A nona edição da Virada Esportiva paulistana mostrou que a Prefeitura de São Paulo ainda não consegue passar ao seu munícipe a real mensagem do evento. Mais uma vez, a terceira na atual gestão municipal, a comunicação foi baseada em números de atividades, de locais e de horas seguidas. Porém, o mais importante, a valorização da necessidade da prática de atividades físicas para o combate ao sedentarismo, foi deixado em segundo plano.
O texto de abertura do site do evento deixa bastante isso claro: “Só vai ficar parado quem quiser. Nos dias 24 e 25 de outubro, mais de duas mil atividades esportivas em mais de 400 endereços vão fazer de São Paulo o maior centro esportivo do mundo”.
Também isso é percebido nos títulos das reportagens publicadas no site da Prefeitura em 22 e 24 de outubro: “Virada Esportiva agita a cidade com mais de 2 mil atividades” e “Virada Esportiva está em mais de 400 locais espalhados em todas as regiões”.
Questionado sobre a importância do evento na manhã de sábado, o secretário de Esportes, Lazer e Recreação, Celso Jatene, disse: “A Virada é o momento em que a pessoa pensa: ‘Por que eu não vou amanhã lá dar uma volta no quarteirão, me inscrever na academia, conhecer o centro esportivo do meu bairro, por que eu não vou à praça e faço um pouco de atividade física…’ O que queremos com a Virada é que as pessoas se conscientizem para que no dia a dia elas façam o mínimo de atividade física para ajudar sua saúde”.
No entanto, a forma como a Virada Esportiva é trabalhada e divulgada pela prefeitura não passa essa mensagem. Uma pesquisa feita em 2014 mostrou que uma boa parcela das pessoas, chegando a 53,2% em unidades do Sesc e CEUs, ainda vai à Virada Esportiva para somente assistir às atividades.
Isso está na contramão do que quer a Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação, que mesmo assim não mudou a estratégia de comunicação da Virada de 2014 para 2015. “Desde 2013, investimos na Virada Esportiva descentralizada e participativa. Antes era um evento muito contemplativo e muito centralizado. Encaramos o esporte de forma diferente da cultura, por exemplo. No esporte a pessoa tem de participar da atividade”, afirmou Jatene.
O próprio site da Virada Esportiva não propôs o conhecimento de novas modalidades: era somente uma lista e não explicou o que é cada uma. Deu a impressão de que a prática é “para iniciados”, ou seja, para quem sabe como é, afastando quem não sabe.
Outro problema sério é a pouca antecedência com que a programação oficial da Virada Esportiva foi divulgada: na tarde de quarta-feira, 21 de outubro, e o evento começaria na manhã de sábado, dia 25. O secretário negou que isso tenha afastado pessoas da Virada: “O pessoal já estava sabendo que ela aconteceria”.
Nos dois anos anteriores a Virada foi realizada em setembro, mas mudou para outubro em 2015. “Pegamos chuva em ambos os anos (em 2014 muita chuva). Tivemos de optar por mudar a data para tentarmos não pegar mais um fim de semana de tempo chuvoso”, afirmou Jatene. O céu ficou nublado no fim de semana passado.
Um grande complicador foi o fato de a Virada Esportiva-2015 ter acontecido no mesmo fim de semana do Enem. O que se viu em redes sociais foi muita gente dizendo que até gostaria de participar do evento, mas que não poderia por causa da prova. “Depois dela ainda dá tempo fazer atividade esportiva para relaxar a cabeça”, declarou o secretário na manhã de sábado.
A abertura da Virada Esportiva-2015 foi realizada no estádio do Pacaembu, onde estiveram os alunos do programa municipal Temático de Artes Marciais e familiares. Segundo Jatene, havia 10 mil pessoas no local, em que o prefeito Fernando Haddad discursou e declarou: “O que se vê é que o praticante de artes marciais entende melhor o processo educacional, porque elas permitem ao jovem compreender o que são a concentração, a disciplina, o aprendizado e, sobretudo, o respeito ao mestre”. Haddad vinculou esporte à educação, mas isso também não apareceu no material de divulgação da Virada Esportiva-2015.
Ainda tem de ser discutido o que realmente é a Virada Esportiva, cuja décima edição será realizada em 2016. Trata-se de um evento para quem já pratica muito esporte ou para que os paulistanos percebam como é importante fazê-los? Atualmente, com a estratégia de comunicação adotada até 2015, a primeira opção ganha, embora o secretário queira que seja a segunda.
Quanto custou
Neste ano, de acordo com o secretário, a prefeitura gastou R$ 5,1 milhões com a Virada Esportiva: “Muito menos que a Virada de 2012, que não foi feita por nós e custou mais de R$ 7 milhões. Se Deus quiser nós vamos conseguir enxugar mais em 2016. Dá para fazermos o melhor [com o orçamento] cada vez mais enxuto”.
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