Meia maratona do Circuito Popular de corrida: desafiadora e muito família

Chegada da etapa de Itaquera do Circuito Popular: 21k (Fenats/Divulgação)

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Quando o Esportividade me convidou para cobrir a segunda edição da prova de 21,097 km do Circuito Popular de corrida de rua, em Itaquera, confesso que jamais imaginei o que encontraria pela frente. Prova com inscrições gratuitas e estrutura melhor que a de muita paga por aí: largada e chegada no estacionamento do shopping Metrô Itaquera, na zona leste de São Paulo, com facilidade para estacionar ou mesmo de chegar de metrô (estação Corinthians-Itaquera, Linha 3-Vermelha), disponibilidade de banheiros do centro comercial, local de aquecimento para os corredores e uma enorme Área Kids com pula-pula, tobogã e diversas atividades recreativas para as crianças, que, aliás, eram muitas.

Área Kids na “arena” da prova de 21,097 km do Circuito Popular (Fenats/Divulgação)

Com um percurso duro e desafiador, repleto de subidas e descidas, mas com algumas subidas bem inclinadas. Foi incrível poder contar com os pontos de hidratação bem posicionados, em que não faltou água geladinha até o fim da prova, e um staff superanimado. Foi a corrida, posso dizer, com o ambiente mais familiar e acolhedor de que já participei.

Afinal, corredor ou não, com certeza você já deve ter ouvido esta frase clichê em algum momento: “A corrida de rua é o esporte individual mais coletivo que existe”. Com cinco maratonas e mais de uma dezena de meias maratonas na bagagem, posso afirmar que já vi esse espírito cooperativo em várias provas por aí. Corredores incentivando outros corredores com gritos, alimentos ou até parando para massagear dores e cãibras são muito comuns. Mas nunca antes me senti tão acolhida em uma prova de rua.

Rosana (ao fundo) e Thais antes da largada da meia maratona do Circuito Popular (Esportividade)

O dia começou nublado – mas animado – em Itaquera. Assim que cheguei, ouvindo ao fundo a voz entusiasmada do locutor puxando o aquecimento da galera, fui recepcionada pela Rosana Meire de Souza Viana, também corredora, que havia retirado meu kit no dia anterior. Imediatamente, ela me apresentou para marido, filho e nora e disse: “Essa é a minha galera”. Entendi que ali era família. Dada a largada da prova, parecia que se tratava de uma grande assessoria esportiva. Todo mundo se conhecia pelo nome e corria, batendo papo, em pequenos grupos, mas sempre cumprimentando e incentivando os outros grupos que cruzavam. Uma vibração muito boa.

A Rosana tinha me alertado de que o percurso começava com uma “subidinha” e, no fim da volta, tinha mais uma subida. O problema é que eram duas voltas. Tudo bem, a temperatura amena e a distração de ver o entrosamento da galera foram me fazendo seguir, embalada no ritmo.

Thaís e João depois da chegada da prova de 21,097 km do Circuito Popular em Itaquera (Esportividade)

Eis que lá pelo km 17, pouco antes do início daquela tal última subida íngreme – que, aliás, no ponto alto dá vista para o estádio do Corinthians e, torcedor alvinegro ou não, é sempre legal ter um grande marco para observar em uma prova de corrida –, já estava bem cansada e decidida a seguir os últimos km na manha.

Mas fui alcançada, fui saber depois, pelo João Silva de Sousa. Eu já tinha cruzado e trocado algumas palavras com ele no trajeto. Mas, naquele momento desafiador, magicamente ele surgiu ao meu lado e me disse: “Vamos, garota, você tá num ritmo bom”. Eu sabia que estava mesmo, até ali, mas tinha decidido pegar leve a partir dali. Já estava prestes a dizer: “Pode ir na frente, te vejo na chegada”. Mas ele ficou lado a lado comigo e acrescentou: “Joga essa água (eu estava segurando o copo do último ponto de hidratação) na cabeça e vamos juntos”. Só consegui responder: “Vamos”.

Subida com vista para o estádio do Corinthians na prova de 21,097 km do Circuito Popular (Esportividade)

Quando a subida ficou íngreme pra valer, João me tranquilizou: “Aqui é igual carro, agora coloca segundinha e vai”. Fizemos a volta, vi o estádio do Corinthians pela última vez e partimos juntos para reta final. Cruzei a linha de chegada com o João – graças a esse puxão que ele me deu, completei a prova na 23ª colocação feminina – e recebi um abraço fraternal, de pai mesmo. Depois disso, ele disse: “Espera aí que vou voltar ali pra prova pra puxar alguns amigos”. E assim ele fez algumas vezes. Voltava alguns quilômetros correndo, encontrava alguém e arrastava-o até a linha de chegada, com orgulho.

Mais tarde, João, que já completou 35 maratonas, me contou que na casa dele faz todo mundo correr: a esposa, os filhos e até a netinha, sua paixão. Ele ainda ficou ao meu lado durante a premiação e me contou como o segundo colocado do masculino venceu o primeiro. E me lembrou de qual é o segredo – na corrida e na vida: “Tá aqui, ó”, apontando para a cabeça.

Aletas cruzam a linha de chegada na meia maratona do Circuito Popular, em Itaquera (Fenats/Divulgação)

Por fim, João me convidou para correr, no próximo ano, a corrida “com organização de primeira, inscrição, camiseta, hidratação, tudo”, que ele organiza anualmente para os amigos em comemoração ao seu aniversário e na qual ele corre a distância da idade que ele está completando; no ano que vem são 60 anos e 60 quilômetros. Boa sorte para nós!

O saldo da corrida de Itaquera é um percurso desafiador, organizado e de muitos novos amigos. Que venham as próximas.

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