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Corrida de rua 02/12/2023

Heroínas da vida real: Divas que Correm dão lição de empoderamento há 10 anos

Por Renata de sá, repórter do Esportividade

Concentração do grupo Divas que Correm antes da largada (Esportividade)

Se procurar no dicionário a palavra “diva”, o primeiro significado que aparece é “divindade; deusa”, relacionado a algo inalcançável. Porém, se avançar algumas camadas para dentro, vai encontrar outro mais interessante: “musa inspiradora”. E é exatamente aí, ao conhecer de perto mulheres tão excepcionais, que começa a fazer todo o sentido o Divas que Correm, nome do maior clube feminino de corrida de rua do Brasil. Elas representam o retrato atual de mulheres reais – com suas vidas e batalhas pessoais – que são fonte de inspiração, pois conseguem encontrar apoio umas nas outras por meio da corrida de rua.

Bruna Coelho (esq.) e Ana Lúcia, líder ABC, caminham para a largada da Mulher-Maravilha (Esportividade)

Quando dezenas de mulheres vestem a camiseta do Divas que Correm ou mesmo quando entoam a plenos pulmões que “uma diva nunca está sozinha”, elas estão ali representando uma legião de mulheres que se empoderam, criando uma imensa rede calcada, principalmente, na sororidade.

Coincidência ou não, nos encontramos em uma corrida feminina de uma das heroínas mais icônicas do universo DC, Mulher-Maravilha, mostrando mais uma vez que existem heroínas da vida real e que, de vez em quando, até elas usam capas. Neste ano de 2023, o grupo, que já conta com mais de 300 mil membros cadastrados em 19 estados (e fora do país), completa dez anos.

Participante segura bandeira do grupo Divas que Correm (Esportividade)

Para Bruna Coelho, idealizadora e administradora do Divas que Correm, o sucesso da trajetória do grupo se dá pela capacidade que elas têm de oferecer uma experiência única. “Essas mulheres encontram a porta de entrada para o mundo das corridas com a gente. Não importa o pace, o peso ou a classe social, porque aqui todos somos divas”, diz.

E elas são muitas – e, a cada momento, durante minha conversa com a Bruna, na concentração antes da largada de uma prova feminina, cada vez mais divas se aproximavam. Vestidas com a camiseta do grupo, chamada de farda por Bruna, era nítida a sensação de empoderamento entre aquelas mulheres. “Temos divas que pegam pódio; já outras que apenas caminham, e ainda aquelas que evoluíram na corrida dentro do grupo”, relata.

Líder nacional do Divas de Correm incentiva outras corredoras (Esportividade)

Com seu megafone em mãos, vestida dos pés à cabeça de DC, além de uma capa representando uma das personagens mais icônicas dos filmes de super-heróis, Bruna entoa frases de incentivo para todas as participantes da prova.

Fernanda, membro do Divas que Correm, no início da Mulher-Maravilha (Esportividade)

Voltado para qualquer pessoa que se identifica como mulher, o grupo tem dado preferência para as provas femininas. De acordo com Bruna, essa escolha é focada, principalmente, no bem-estar das atletas. “Nesse tipo de prova, podemos dançar, podemos brincar, usar a roupa que cada uma se sente confortável sem nenhum tipo de problema”, aponta.

Diva solidária

Grupo Divas que Correm se encontra antes da largada (Esportividade)

Um dos projetos criados por Bruna é o Diva Solidária, que fornece inscrição para atletas que não têm condições de arcar com os custos. No fim do ano, elas recolhem peças de vestuário esportivas e fazem a doação para mulheres que precisam disso. “Muitas delas nem sequer têm o apoio da família”, afirma. Além disso, quando uma atleta se destaca nas provas, são realizadas “vaquinhas” para compra de itens de corrida, como relógio. O grupo ainda firma parceria com os organizadores para aquisição de grandes quantidades de inscrições, buscando um desconto melhor e, ainda, cortesias.

O que fazer para se tornar uma diva?

DC, Divas que Correm, medalhistas da Corrida Mulher-Maravilha (Esportividade)

“Você precisa estar disposta a ser melhor do que ontem”, é assim que Bruna define como integrar o Divas de Correm. O grupo não cobra mensalidade, podendo qualquer pessoa que acredita nos mesmos ideais participar de encontros, treinos e corridas. É possível ainda ingressar nos grupos de WhatsApp e ficar por dentro das provas de que a equipe vai participar.

De participante a empreendedora

Bruna Coelho posa ao lado de membro do Divas que Correm (Esportividade)

Antes de estar à frente, como administradora do grupo, Bruna, que é natural de Sorocaba, conheceu o projeto criado originalmente pela jornalista Giselli Souza. Após alguns problemas de saúde – que fizeram o peso dela disparar, por exemplo –, Bruna participou de um encontro do Divas que Correm em São Paulo. “Foi uma identificação imediata, porque encontrei outras mulheres que também estavam enfrentando as suas batalhas. Achei minha tribo e descobri ali a força que eu tinha, a mulher forte e poderosa que eu era”, conta.

Em seguida, tornou-se líder regional na cidade onde mora, promovendo treinos e ampliando a rede do grupo. Até que, em 2018, passou a ser a proprietária da marca.

Hoje em dia, existem 45 líderes regionais que trilham o mesmo caminho de Bruna, incentivando outras mulheres a (re)encontrar a saúde e a autoestima por meio da corrida de rua. “Se não fosse a corrida, eu não teria suportado todos os problemas que eu enfrentei”, pontua. Érika Rocha, líder de SP, está ao lado de Bruna na administração geral.

A cada encontro – em treinos, em provas ou na formação de uma nova líder – Bruna ouvia os relatos das novas “divas”, suas histórias e, principalmente, reclamações sobre a falta de itens de vestuário fitness confortáveis voltados para pessoas consideradas “fora do padrão”. Pensando nisso, ela criou, em um primeiro momento, camisetas que iam até o 4G e, na sequência, uma linha completa com blusas, saias, shorts, meias, pulseiras, bandeiras, entre outros itens, para todos os tipos de corpos e todos os tipos de bolsos. Os produtos estão à venda na lojinha do Divas que Correm. Para mais informações, acesse os perfis do grupo no Facebook e no Instagram.

Trata-se, no entanto, de um chamamento para outras mulheres calçarem os tênis e correrem, literalmente, em busca de uma vida mais saudável e feliz. E o hino dessas “divas” a gente já conhece: “Uma vida nunca está sozinha. Juntas somos mais fortes”.

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