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Corrida de rua 13/07/2023

Como Barcelona e seus moradores me conduziram ao fim da minha 1ª maratona

Por Andrei Spinassé, editor do Esportividade

Atletas abaixam para pegar chip a ser devolvido ao fim da Maratona de Barcelona (Esportividade)

Até pouco tempo atrás, nem nos meus bons sonhos eu poderia imaginar que participaria de uma maratona; nem nos meus melhores sonhos, que a estreia nos 42,195 km aconteceria justamente em uma maratona na Europa, precisamente em Barcelona, na Espanha, uma cidade que – sem exagero – foi mudada pelo esporte, se modernizando (de fato) para sediar os Jogos. E me mudou para sempre, a ponto de iniciar, em Praga, na República Tcheca, em 2023, a cobertura jornalística ativa de maratonas internacionais.

Foi na reabertura das atividades, ainda em meio à pandemia de covid-19, que comecei a treinar corrida mais e melhor. Meu treino usual aos fins de semana passou a ser o de 21,097 km, e uma conjunção de fatores permitiu que a repórter Renata de Sá e eu viajássemos para Barcelona justamente no fim de semana da maratona. Em dois meses, me preparei para dobrar a distância – não tão bem, é verdade, mas o suficiente para completar a prova.

Antes mesmo de sexta-feira, dia em que retiraríamos o kit de participação, entramos no clima da corrida, uma vez que, durante nossos passeios pela capital da Catalunha, encontrávamos a blue line, que sinaliza o traçado ideal, pintada no asfalto. Sabíamos, então, que eu passaria por aqueles trechos no domingo. E, com isso, ansiedade só aumentava.

Kit retirado na sexta-feira pré-Maratona de Barcelona (Esportividade)

O kit, obtido na Fira de Barcelona, a poucos metros de onde se dariam a largada e a chegada, na praça da Espanha, continha uma camiseta em que estava estampado o mapa do percurso, deixando claro que os 42,195 km seriam mais que uma maratona: seriam, além disso, um passeio diferente pela maioria dos cartões-postais da cidade.

Onde a chama olímpica ficou acesa em 1992 (Esportividade)

Na manhã de sábado, tivemos a chance de participar da Breakfast Run, corrida gratuita, aberta a mesmo quem não estava inscrito na maratona, em que percorremos os últimos 4 km da maratona olímpica de 1992 – com chegada no estádio Olímpico de Montjuïc. Foi ali que tive noção de estar diante da História: afinal, Barcelona-1992 foi a primeira Olimpíada da qual me lembro, já que nasci em 1986. Foi emocionante ver o ginásio onde a seleção brasileira masculina de vôlei conquistou a medalha de ouro.

Clima sem igual antes da largada da Maratona de Barcelona (Esportividade)

O espírito olímpico me moveu (e me comoveu) na largada de domingo: dois cantores interpretaram, acima do pórtico, o tema olímpico de 1992, originalmente cantado por Freddie Mercury e Montserrat Caballé. Fui embalado por essa emoção nos primeiros quilômetros, durante os quais observei onde era o Camp Nou, estádio do Barcelona, sem conseguir vê-lo direito.

Estava melhor que eu imaginava, inclusive à frente dos pacemakers das 3h45min (se eu os acompanhasse até o fim, faria esse tempo), até o km 24, mas foi um pouco depois disso que a coisa desandou – ou, na verdade, andou. Tive de começar a caminhar mais e a correr menos. Como o nome tinha sido impresso com letras grandes no número de peito, de vez em quando um morador (que havia saído às ruas para ver a corrida) me incentivava dizendo “Vamos, Andrei”.

Quem mais me incentivou no fim foi a Renata, que estava no km 41. Depois do grito dela, decidi correr até o fim, mesmo de forma mais lenta. Esperava obter um “sub-4h”, porém completei a prova em 4h11min29s, ainda com pace na “casa” dos 5 min/km.

Na noite de sábado, pórtico já estava montado em Barcelona (Esportividade)

Ao fim disso tudo, eu estava contente e incomodado – tudo ao mesmo tempo. À época, senti não ter aproveitado a segunda metade da maratona por estar cansado. Não era uma insatisfação com o tempo final, mas com o fato de que eu não tinha vivido aquela incrível cidade como ela merecia nessa parte final. Hoje em dia, penso que foi justamente ela que me levou até o fim.

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