A lesão do lutador de MMA Anderson Silva e sua possibilidade de volta
Anderson Silva apresentou fraturas da tíbia e fíbula (ossos da perna) esquerdas após um chute fortíssimo que atingiu o joelho do oponente Chris Weidman no último fim de semana de 2013. A luta foi imediatamente interrompida, o membro de Spider foi imobilizado e o atleta levado a um hospital para realização de um procedimento cirúrgico.
A cirurgia realizada para o tratamento da fratura foi a osteossíntese com uma haste intramedular bloqueada com parafusos, ou seja, por meio da colocação de um tutor por dentro da tíbia do ex-campeão.
A partir daí surgiram inúmeras dúvidas e perguntas nas cabeças das pessoas e fãs. Quanto tempo demora para “curar” a fratura? O Anderson conseguirá retornar ao esporte? Se voltar a lutar, retornará com o mesmo nível? Quanto tempo demorará para voltar a treinar? E para lutar competitivamente?
Primeiro, é importante salientar que as imagens vistas, apesar de chocantes, não são comuns nessa modalidade. Existem poucos estudos científicos na literatura sobre esse tema, mas um estudo mostrou que as fraturas correspondem somente a 5,7% de todas as lesões do MMA, sendo que a maior parte dessas fraturas ocorrem nos ossos da mão (metacarpos). Logo, as fraturas da tíbia são eventos pouco comuns nesse esporte.
As fraturas da tíbia, em média, consolidam em 8 a 12 semanas. A utilização da haste intramedular permite que o paciente pise com o membro operado, no limite tolerado pela dor, já nos primeiros dias após a cirurgia. Outras vantagens dessa cirurgia são a possibilidade de início imediato da fisioterapia e a não necessidade de imobilização (gesso, tala etc) após a cirurgia.
É importante salientar que o processo de cicatrização do tecido ósseo difere do ocorrido após uma lesão muscular ou ligamentar. Enquanto o músculo/ligamento lesionado passa por um processo de reparação, o osso fraturado cicatriza por meio de um processo de regeneração. Dessa forma, durante o processo de cura de uma lesão muscular/ligamentar ocorre a formação de uma cicatriz no local da lesão, o mesmo não ocorre no processo de consolidação óssea onde o tecido cicatricial é idêntico ao pré-existente.
Assim, fica claro que Anderson poderá retornar sem restrições ao esporte após o processo completo de recuperação da lesão. Entretanto, não existem estudos na literatura sobre o tempo necessário para retorno completo as atividades esportivas e nível de competição atingido após tratamento destas fraturas no MMA. Mas levando em conta outra modalidade, o futebol, podemos obter algumas informações – apesar da enorme diferença entre elas.
Um estudo realizado demonstrou que, no futebol, 93,2% dos atletas retornam ao esporte após fraturas da tíbia, sendo que, aproximadamente, 75% desses atletas conseguiram voltar no mesmo nível de competição prévio à lesão. O tempo para retorno aos treinamentos após fraturas da tíbia no futebol foi, na média, de 5 a 6 meses – com o atleta retornando a competir oficialmente de 10 a 12 meses após a fratura.
Logo, o Spider, caso não decida pela aposentadoria, reúne todas as condições para retornar as lutas já no ano de 2014. Torceremos para que isso aconteça, pois se trata do maior lutador de MMA de todos os tempos, um verdadeiro fenômeno dos octógonos.
Boa recuperação e que venha mais uma revanche pela frente!
Sobre o Dr. Gustavo Arliani
Doutor Gustavo Arliani é ortopedista especialista em traumatologia formado pela Universidade Federal de São Paulo. É um dos autores do livro “Classificação em Ortopedia e Traumatologia”, juntamente com Doutor Moisés Cohen e Diego Astur. Gustavo é um dos dez mais bem colocados na prova para o título de especialista em Ortopedia e Traumatologia pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT. [email protected] / drgustavoarliani.com.br
PENSO QUE FOI UM GRANDE NESSA MODALIDADE, MAS A IDADE É O FATOR CONTRÁRIO QUE ELE TEM QUE TRABALHAR PARA CONTINUAR COMO ANTES, O NÍVEL DELE NÃO ESTÁ COMO ANTES.