Feito do handebol era o que faltava às “modalidades de quadra poliesportiva”
O título mundial inédito da seleção feminina de handebol era o resultado internacional expressivo que faltava ao quarteto de modalidades coletivas de prática mais comum em escolas brasileiras: basquete, futsal, handebol e vôlei.
As quadras poliesportivas, que podem receber simultaneamente marcações para jogos dessas quatro modalidades, estão presentes em 55% das escolas públicas brasileiras, segundo pesquisa divulgada em março de 2012 pelo Ibope e encomendada por Instituto Ayrton Senna, Instituto Votorantim e Atletas pela Cidadania. De acordo com o mesmo relatório, apenas 70% dos colégios públicos têm espaços que são destinados à prática de educação física em suas instalações. Chega-se, então, à conclusão de que quase 80% dos espaços para aulas da disciplina são quadras poliesportivas. Elas estão, então, diretamente relacionadas com a formação esportiva dos alunos.
Antes deste Campeonato Mundial feminino, o handebol era a única modalidade entre as quatro mencionadas que carecia de um grande desempenho internacional. A seleção brasileira masculina de basquete foi bicampeã mundial em 1959 a 1963, e a feminina conquistou título mundial em 1994 e prata na Olimpíada de 1996. No futsal, derivado do futebol, os homens têm cinco títulos mundiais reconhecidos pela Fifa e outros dois antes de ela organizar o campeonato; as mulheres faturaram todos os quatro já disputados. No vôlei, os bons resultados tiveram início nos anos 1980, com a “geração de prata”, e o ouro olímpico masculino veio finalmente em 1992. Com a chegada do novo século, a seleção masculina voltou à grande fase e foi tricampeã mundial e ouro na Olimpíada de 2004; a feminina é a melhor seleção do mundo neste momento – é a atual bicampeã olímpica.
Já o handebol carecia de feitos históricos. Eliminadas nas quartas de final tanto do Mundial de 2011, disputado em São Paulo, como da Olimpíada de 2012, as jogadoras do Brasil desta vez chegaram às semifinais, à final e foram campeãs, derrotando as donas da casa, as sérvias, por 22 a 20. A conquista é fruto de um trabalho que começou com a contratação do técnico dinamarquês Morten Soubak, passou pela parceria com a equipe austríaca Hypo Nö e teve investimento do governo federal. Só três das jogadoras do elenco campeão jogam no Brasil, como a central Deborah Hannah, da Metodista/São Bernardo.
Os campeonatos nacionais de handebol ainda estão muito aquém do que se espera dos de um país campeão. A Liga Nacional masculina, por exemplo, encerrada em 20 de dezembro, sexta-feira passada, foi vencida pelo Taubaté, que derrotou a Metodista/São Bernardo/Besni em Anápolis (GO), mas a repercussão do feito do time do interior foi mínima. O SuperPaulistão, o estadual mais forte do país, nem de longe é o que poderia ser.
Quando o auge da atual seleção feminina de handebol terminar, é necessária uma nova geração para preencher esse espaço. O vôlei pode ser um caso a ser estudado pelos dirigentes brasileiros do handebol, pois hoje em dia o Brasil tem a maior parte dos jogadores das seleções jogando no país e, ao mesmo tempo, os times nacionais continuam extremamente competitivos. A origem dos atletas de handebol e vôlei basicamente é a mesma, é a quadra poliesportiva escolar. A questão toda é o que fazer com eles nos próximos passos e dar-lhes perspectivas de profissionalização.
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