Setor de psicologia esportiva: é hora de o ser humano ter vez no “ser atleta”
A presença atuante de um departamento de psicologia esportiva auxilia no trabalho de suporte emocional e psicológico aos atletas da base e, principalmente, na ponte para a equipe profissional. Afinal, é justamente nesse momento que muitas cabeças se perdem e talentos são desperdiçados (além dos altíssimos investidos perdidos).
No no time principal, o psicólogo do esporte auxilia na evolução de competências fundamentais para o sucesso dentro de campo: comunicação, integração, motivação, coesão de equipe e tantos outros fatores que possibilitam aos atletas o pleno exercício de seus talentos e o controle de variáveis (ansiedade, tensão, medos etc) que depõem contra o bem-estar desses jovens meninos, que, constantemente, se deslumbram com os holofotes da fama.
Um departamento de psicologia esportiva não garantirá mais ou menos títulos ou vitórias. Até porque o psicólogo não calça chuteiras nem atua no banco de reservas. É apenas mais um profissional dentro da comissão técnica. Mas o desenvolvimento dessa área fundamental no treinamento esportivo certamente dará auxílio ao resgate e ao fortalecimento de questões que passam longe do conhecimento dos dirigentes e técnicos que, até hoje, insistem que “uma conversa ao pé do ouvido” pode resolver problemas muito mais sérios e que, inevitavelmente, influenciam no rendimento do atleta e da equipe.
A banalização das demandas mentais e emocionais expõe as dificuldades de se encarar essas questões de uma forma mais simples, objetiva, natural e humana. Convido o amigo leitor a lembrar das recentes – e não tão recentes assim – tragédias do nosso futebol que poderiam ter sido evitadas caso atuações preventivas psicológicas tivessem sido realizadas. Apenas para aquecer a memória: a perda das Copas de 1950, 1998 e 2010 são exemplos típicos da fragilidade emocional (individual, coletiva e de comando) que influenciaram diretamente na derrota de nossa seleção. E os casos de Libertadores, então? Vários clubes deixaram escapar a conquista desse torneio por conta da falta de um treinamento psicológico sério e centrado nos perfis e demandas emocionais dessas equipes.
O futebol empresa pede passagem. Com ele, resultados, patrocínios, logotipos, contratos milionários e cobranças tendem a crescer. Só não podemos esquecer que os responsáveis pela manutenção e crescimento desse modelo esportivo não rararamente vivem crises emocionais, sociais, educacionais e psicológicas. De nada adianta os treinadores constatarem que “o times perdeu por conta do descontrole emocional” ou “a equipe estava muito ansiosa dentro de campo” se nada for feito para atender estas necessidades dos atletas e dos times.
O fato, amigos, é que passou da hora de o ser humano ter sua vez no “ser atleta”.
Sobre João Ricardo Cozac
Psicólogo do esporte, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, vice-presidente da Sociedade Brasileira da Psicologia do Esporte. Membro acadêmico da Academia Brasileira de Marketing Esportivo e do Laboratório de Psicossociologia do Esporte da USP. Atua na área há 20 anos, atende atletas de diversas modalidades e categorias e é professor responsável pelo curso de Psicologia do Esporte na Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
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É importante a existência da difusão da psicologia do esporte, uma vez que não existe esporte só o treino pelo treino. O corpo e mente trabalham conectados.