São Paulo - região metropolitana
Diário de Ferro 13/11/2013

A preparação psicológica na formação de atletas

Por João Ricardo Cozac

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Os anos 1990 decretaram uma nova postura nas equipes de diversas modalidades esportivas por meio do surgimento dos clubes-empresas. Em decorrência desse tipo de patrocínio, tornou-se possível viabilizar uma nova filosofia organizacional, em que um dos itens mais importantes deveria ser o reconhecimento da necessidade de um psicólogo atuante e presente para garantir um rendimento positivo e estável das equipe.

A preparação psicológica dos atletas é uma das temáticas mais discutidas no mundo do esporte, sendo objeto de estudos no campo do conhecimento das ciências humanas e sociais. O nível de preparação psicológica se manifesta mediante a eficiência dos métodos de procedimentos e na eficácia das múltiplas técnicas empregadas em relação aos atletas.

A mídia ressalta frases comuns ouvidas por comentaristas esportivos e treinadores de diversas modalidades: “Temos que mexer com o psicológico dos jogadores”, “É hora de trabalhar a parte psicológica dos atletas”, “Nesse momento a parte psicológica conta muito”, “O emocional fez a diferença nesse jogo”, “Os atletas sentiram a pressão emocional” e outras tantas pérolas ditas por treinadores de nome no cenário esportivo nacional.

É preciso constatar que, na atualidade, não existe a formação de psicólogo do esporte – o que existe são bacharéis e licenciados em psicologia para atuarem nos seguimentos da psicanálise, da psicologia escolar e da organizacional, além daqueles que foram formatados para atuarem como psicólogos. Decorre daí que, quando se fala em psicologia ou psicossociologia do esporte, é usual encontrarmos diferentes discussões a respeito dos profissionais que atuam no contexto dos esportes de rendimento.

O papel dos conhecimentos antropológico, sociológico, psicossociológico e psicológico nas atividades dos profissionais (treinadores, sociólogos, psicólogos, preparadores físicos, entre outros) é um referencial fundamental para suas percepções sobre a sociedade do esporte e, consequentemente, um dos esquemas conceituais, referenciais e operacionais orientadores de suas ações e intervenções psicossociológicas.

A emergência do trabalho de um psicólogo processa-se no cenário de uma crise de aceitação como um reflexo da credibilidade que os psicólogos têm dentro do ambiente esportivo. Julga-se que a intervenção dos psicólogos não é prioritária no entrecruzamento dos múltiplos elementos sociais, filosóficos, ideológicos, econômicos, políticos e culturais de uma totalidade interativa envolvendo instituição/clube, grupos e pessoas. Isso significa que o papel do psicólogo em organizar um projeto de preparação psicológica de atletas – tarefa cujas maiores dificuldades não só residem na estruturação de um trabalho eficiente como método de procedimentos, mas também na eficácia das metas e objetivos propostos como técnicas de intervenção psicológica na preparação dos atletas. Lembremos que nem sempre os dirigentes estão interessados no trabalho psicológico para os atletas.

É comum ouvir grandes atletas e treinadores dizerem: “Temos que nos preparar psicologicamente para esta partida” ou “Fisicamente o time está bem, mas psicologicamente vem passando por dificuldades” ou, ainda, “Temos que elevar o moral para virarmos o jogo”.

Com efeito, quando se diz que o atleta está precisando de melhor preparo físico para uma competição, sabe-se que o preparador físico será escalado para um trabalho mais rigoroso com esse atleta, seja definindo nova rotina de treinamento, optando por um macrociclo ou determinando-lhe que faça exercícios para desenvolver habilidades motoras necessárias ao seu desempenho: força explosiva, flexibilidade, resistência muscular localizada, agilidade etc.

Se o atleta está mal – psicológica ou emocionalmente – quem é o profissional tecnicamente preparado para atuar na solução desse problema? O técnico, o diretor do clube, o médico ortopedista, profissionais de outras áreas que não a da psicologia do esporte? Os que conhecem de perto o cotidiano do treinamento do atleta, de equipes ou clubes de futebol dirão que profissionais sem a devida formação atuam como “psicólogos” no esporte. Esse problema coloca em discussão inúmeros problemas – um deles, o papel do psicólogo no mundo do esporte e, mais especificamente, na preparação das equipes e dos atletas individualmente. Isso justificaria uma análise sobre tudo aquilo que ocorre no campo do esporte.

O clube está preparado para administrar os mecanismos implantados como valores, normas e regulamentos para enquadrar as condutas humanas. E a questão que se faz formular é a seguinte: a preparação psicológica tem um papel fundamental na vida das equipes e dos atletas individualmente? Julga-se que, nesse cenário, o orgânico, o psíquico, o emocional, o individual e o social são elementos inseparáveis aos dirigentes, técnicos e atletas e ao ambiente institucional dos quais participam e em que interagem e desenvolvem suas atividades profissionais.

Sobre João Ricardo Cozac

Psicólogo do esporte, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, vice-presidente da Sociedade Brasileira da Psicologia do Esporte. Membro acadêmico da Academia Brasileira de Marketing Esportivo e do Laboratório de Psicossociologia do Esporte da USP. Atua na área há 20 anos, atende atletas de diversas modalidades e categorias e é professor responsável pelo curso de Psicologia do Esporte na Associação Paulista da Psicologia do Esporte.

Sobre o blog Diário de Ferro

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